Desvendando a Saúde Mental Masculina: A Jornada de Recomeço na Austrália (com Marcel)
Isso aí. Foi. Oi, pessoal. Meu nome é Luísa. Seja bem-vindo ao Decidir Dá Certo. Aqui a gente conta histórias reais de imigrantes, nossas transformações, vitórias, perrengues, enfim, sobre tudo. E hoje a gente vai bater um papo sobre um assunto que ainda é tabu, infelizmente, que é a saúde mental masculina. E eu tenho aqui o meu amigo Marcelo. Obrigada. Nada. Ele aceitou o convite e abriu o coração, né, pra gente conversar um pouco sobre isso. Marcel, vamos quebrar um pouquinho o gelo. Me conta, sei lá, um assunto, um momento engraçado seu aqui na Austrália. Vamos começar por um momento meio que engraçado, depois a gente entra nesse assunto mais sério. Um momento engraçado na Austrália. É, um que você tipo assim, meu Deus do céu. Eu tenho vários. Eu tenho... Nossa, se eu for te contar, eu tenho... Me conta um, que aí eu vou puxando da minha memória aqui. É... Eu tenho um que aconteceu assim que eu me mudei aqui pra Austrália. É... Eu morava num apartamento, numa unit. que são dois andares, e eu trabalhava de madrugada, e já tinha esquecido a chave milhões de vezes, e aí meu marido Kleber, ele falou pra botar a chave escondida, que aqui tem uma pedra, né? Que você coloca a chave dentro, escondida. Todo mundo sabe que aquela pedra é falsa. Enfim, e aí eu botei na parte de trás. Aerolito? E aí eu botei na parte de trás. Nesse dia eu tinha esquecido a chave. E aí eu lembrei que a chave tava na parte de trás da porta, na parte da varanda. E aí quando eu fui dar a volta assim, a minha unit, meu apartamento, era a última. Então eu teria que passar, era uma varanda comunitária, então eu teria que passar pela varanda de todo mundo. Quando eu olho, tem várias, várias varais, sei lá como é que fala, plural, esqueci, enfim. Várias roupas penduradas. E eu falei assim, caramba. E a varanda é estreita, né? Então, tipo, a roupa tava aqui e não tinha como eu passar. Sem mexer na roupa da pessoa. E aí eu falei, caramba, e agora? Como é que eu vou fazer? Aí eu tive a brilhante ideia, Spider-Man. Vou pegar, vou me pendurar no... para peito do negócio. É madeira, gente. E tipo, rezando pra aquilo ali não quebrar, porque se quebrasse, tipo, eu ia cair numa distância, sei lá, de uns 4 metros de altura. Meu Deus. E eu fui aqui ó, tchum, tchum, tchum, tchum, tchum. Minha garrafinha que tava na mochila caiu, fez um barulhão, bu, bu, bu, bu, bu, bu. Aí eu fiquei parada por um segundo que eu fiquei com medo de alguém, tipo, ligar a luz e falar, é ladrão, alguma coisa assim. Que horas eram isso? Três horas da manhã. Putz. Eu cheguei lá do outro lado. E quando eu cheguei do outro lado eu falei assim, uff. Isso eram quatro units, então sei lá, uma distância, sei lá, de talvez cem metros. Essa foi a mais baixa, tá? Foi a mais baixa. Eu não tô conseguindo me lembrar agora, mas a gente tinha muito isso, a gente se trancava muito fora de casa, né? Daí quando a gente se mudou pra Capadelaide, a gente se trancava pra fora de casa direto. Aí tinha que pular o muro, o muro era... O dedo era alto e sempre… Nunca dava certo. A primeira vez que a gente fez isso, tinha uma amiga visitando a gente. Ela pulou, quase caiu, ficou com o rosto… A gente ficou assim, quem é o menor? Pra poder pular. Acho que é mais fácil a gente botar a mão aqui, empurra pra lá, empurra pra cá. No dia seguinte, acordou com o rosto desse tamanho, assim, no porradão. Mas eu, direto. Você sabia que uma vez a gente teve que chamar um chaveiro, né? Nove horas da noite. Foi o... Nossa, foi o dinheiro assim que mais... Não, um, dois, né? Porque eu já perdi muito dinheiro aqui na Austrália. Esse foi o que me doeu o coração. Paguei 150 dólares pra dez minutos. O cara veio... Faz assim... Abriu a porta... 150... Cara, eu não... Uma lágrima escorreu do meu olho nessa hora. Cara, eu devo ter muita derrota, só que eu não tô lembrando. Não sei. Quem não tem derrota aqui nessa Austrália, né? Ah, impossível. Impossível. Quem não tiver derrota tá mentindo. E como que você veio parar na Austrália, assim, né? Tudo bem, teve a Babi, mas como que você chegou aqui? Porque você veio por conta da Babi, né? Vim por conta da Bárbara, sim. Mas aí, tipo, ela já… Você já a conhecia lá no Brasil? Já, já a conheci lá no Brasil, a gente… Se reencontrou, você falava e tal, aí eu vim em 2018. Passei um mês aqui, aí… Voltou pro Brasil de novo? Voltei pro Brasil, tava terminando meu tempo lá de serviço na Marinha e quando acabou eu vim pra cá. Era… Eu vim com a intenção de ficar um ano e meio e… Lá se vão… Quase sete anos. Seis anos e meio. Mas você veio pra cá com visto de estudante? Visto de estudante. Na verdade, eu vim como turista, né? Eu vim em 2018. Audacioso você, né? Eu vim em 2018. Eu vim em 2018. E eu ainda tinha o visto de turista válido. E aí eu vim como turista. Porque o visto de turista vale um ano, né? E você pode fazer múltiplas entradas. Então, eu fiz a minha primeira entrada em outubro de 2018. E a minha segunda entrada, que foi definitiva, em fevereiro de 2019. Então, meu visto ainda era ativo. Ah, tá, tá, tá. Pesquei agora. Mas, assim... Era inocente ali, né? Mas, ao mesmo tempo, as minhas malas eram claramente de uma pessoa que ia... Passar a vida inteira. Que ia se mudar. Embora o nosso plano não fosse ficar aqui definitivamente, mas assim, dentro da minha mala tinha, sei lá, bule de café, entendeu? Mas a ideia então era ficar o quê? Um ano e meio. Um ano e meio e vocês dois voltarem pro Brasil. Voltar pro Brasil. E o que fizeram? Aí nesse meio tempo veio a pandemia. A pandemia fizeram vocês decidirem ficar? Ou vocês já tinham decidido isso antes? Foi a pandemia. Foi a pandemia? Foi a pandemia. Porque a gente tava em Melbourne, então a gente ficou Trancado, né? Então, assim... Tá trancado e você deixa de vivenciar tudo aquilo que você... Tudo aquilo que você esperou, né? Essa coisa de... Essa expectativa de, ah, não, vai ser legal. Vamos aqui, vamos ali. Assim, eu tinha feito uma meta de que eu queria conhecer todas as capitais da Austrália. Tudo mais, e aí veio... E eu não... A pandemia... Você chegou em 2019? Cheguei em 19. E aí você ficou um ano... Exatamente um ano. Exatamente um ano. Eu cheguei em final de fevereiro de 19. E aí a Covid explodiu. Finalzinho em meio de março de 20, né? Quanto tempo foi? Porque, assim, aqui em Adelaide a gente não sofreu tanto quanto Melbourne. Melbourne ficou fechado sete meses? Mais. Mais? Melbourne foi a maior cidade do mundo em lockdown, né? Nenhuma cidade no mundo teve mais lockdown que Melbourne. Eu acho que o primeiro foram três meses, o segundo foram quase quatro meses e meio. Alguma coisa assim, sem poder sair de casa. Aí ficou, na época, você, Babi, ou só vocês dois? Só nós dois. A gente morava sozinho num apartamento de um quarto. Não gastou seu rio primário? Não, eu não gastei meu rio primário. Não gastei meu rio primário. Cara, engraçado, foi uma época que a gente se uniu muito, assim. Eu acho que era uma coisa, geralmente, do controle mesmo da... E por que vocês decidiram ficar? Porque, assim, pensando num contexto, tipo, olha, tô presa aqui, minha família toda no Brasil, enfim, com certeza você conhece alguém que foi afetado, alguém que faleceu e tudo mais. Talvez, sei lá, eu, pensando hoje, seria tipo, meu Deus, eu quero voltar pro Brasil, Já que eu, enfim, oito meses, nove meses da minha vida perdidos, entre aspas, né, por conta da... Que aqui você ficou em lockdown, por que vocês... Não. Eu vou... Acho que justamente por isso, né, porque assim, pra gente tentar terminar o motivo que a gente ficou primeiro, era pra gente terminar o que a gente começou, né? Enfim, eu fiquei um ano preso e você fala que você não foi... Você não conheceu nada. Ah, tá. Beleza. A gente ficou praticamente um ano dentro de casa. E era de fato, eu só podia ir do trabalho pra casa, da casa pro trabalho. Eu não podia, sabe... E por um pub, nada disso? Não, você não podia ir na praia. Você não podia sair cinco quilômetros da sua casa. Se a polícia te pegasse cinco quilômetros da casa, você ia tomar uma multa. Então assim, você de fato não aproveita nada. E aí chegou num ponto também que você pensa, pô, tô aqui esse tempo todo, não aproveitei, acabou que a pandemia lá em Melbourne durou quase dois anos, E a gente falou assim, vamos fazer o quê? Nessa época quem estava estudando, você ou a Bárbara? A Bárbara. A gente fez um combinado, né? Eu terminei meus estudos já no final. Porque assim, a minha escola, ela foi literalmente interrompida. Eu não estudei online. Ah, tá. Porque a minha escola, eu fiz um diploma de disciplina de mídia. É basicamente lidar com... Eu fazia edição de vídeo, fotografia, essas coisas. E a escola não podia te obrigar a ter um computador que comportasse esses softwares, né? Que era Premiere, que tudo isso tem essa assinatura. Então, a escola foi literalmente paralisada. Então, no primeiro bloco, eu fiquei três meses sem estudar. Foi bom, porque eu pude trabalhar mais, né? Pra levantar um pouco de grana. A Bárbara perdeu o emprego logo que começou a pandemia. Então, assim, eu fiquei... Foi o que conseguiu equilibrar a gente ali na época. E aí eu terminei meus estudos, a Bárbara tava empolgada, a gente conversou, sentou, conversou, falou assim, ah, ela falou, eu quero continuar. Eu falei, ah, então beleza. Ela continuou e a gente fez a vista de página e ela seguiu nos estudos. E durante a pandemia, como, porque assim, o Kleber sempre conversa comigo sobre a questão da pressão, social, ou pressão dele com ele mesmo, do tipo… Eu sou o homem da relação. Infelizmente, né, ele tem essa questão. Não sei se todo mundo, mas… Ah, eu sou o homem da relação, eu tenho que prover e tal. Durante a pandemia, você que falou que… Enfim, carregou porque a Bárbara perdeu o emprego. Óbvio, né, hospitality. Todo mundo foi atingido. Você sentiu essa pressão? Eu não senti essa pressão, sei lá, pelo fato de masculino, feminino, de ser... Não. Mas eu senti essa pressão pelo fato de eu precisar ajudar a casa, entendeu? De eu precisar manter a casa. Ok. E quando abrir algum momento desse relacionamento aqui, né? Bárbara, eu vou falar mais recente. você sentiu essa pressão do tipo, eu não sei, sei lá, porque você voltou para o Brasil já, né? Enfim, é um pouco cultural essa questão, né? O homem como provedor. Infelizmente tem essa cultura, porque aqui na minha relação com o Kleber, o início, quem foi a provedora foi eu. Então, ele se sentiu inferior a mim, porque eu que tive que bancar a casa. E ele, obviamente, isso afetou ele psicologicamente, ele foi fazer terapia. Que, inclusive, você faz terapia? Há muito tempo, dez anos. Porque muitos amigos deles falam, ah, pra que você tá fazendo terapia? Teve algum amigo seu que falou assim, ah, não acredito que você faz terapia, pra que você faz terapia? Ah, provavelmente, mas assim, no início, eu acho que já pra evitar isso, era uma coisa secreta, assim, secreta. Ah, tá. Assim, as pessoas mais próximas sabiam, minha família sabia, meus pais e tal, não sei o quê, mas eu não falava muito assim, Ah, cara, porque é chato pra caralho, assim, ter que ficar explicando por que que você tá procurando alguma coisa pra você, entendeu? Você tem, sei lá, síndrome de estômago, você vai no médico, você não sei o quê, não sei o quê, não sei o quê, você tá passando por uma coisa na cabeça, você vai fazer o quê? Você vai fazer porra nenhuma. Então, pra mim, eu não tinha paciência pra explicar pras pessoas... Desculpa, não é paciência pra explicar pras pessoas, eu não tinha paciência pra me justificar pras pessoas. Eu não tenho que me justificar, e assim... A terapia era uma coisa muito pessoal, E as pessoas associavam muito aquilo assim, você tá com problema, você tá maluco. Terapia é coisa de maluco, terapia é coisa de pessoa problemática. E assim, e a pessoa que nunca teve aí pra você, falou assim, ah, porra, conta comigo, como se fosse, sabe, e você vira aquela reparação histórica, sabe, aquela coisa retroativa. Não. Hoje eu falo muito abertamente, falo pra todo mundo, acho que também, hoje, felizmente, se naturalizou, as pessoas hoje falam com mais naturalidade. Hoje eu vejo muita gente assim, vira quase, Hashtag, né? Faço terapia. Gratiluz, tipo… Gratiluz, né? Tipo isso, é. Cara, eu tô com a mesma psicóloga há dez anos, né? Eu vim pra cá. Curiosamente, no dia que eu vim pra Austrália, que eu me mudei, eu fui lá. No meu último dia, assim. Tá com a minha família, não sei o quê. Eu separei uma hora do meu último dia no Brasil pra ir lá, assim. Foi uma despedida, a gente chorou e tal. Nossa, que legal! Pois, abraçou, ela chorou, eu chorei, assim, agradeci e tal. Vim pra cá, fiquei um tempo meio sem, mas depois eu senti vontade, né, de... De voltar. De me encontrar, assim, e de voltar a conversar com ela. Foi online, assim, e é do jeito que é. Durante a pandemia? Não, um pouco antes da pandemia. Antes da pandemia. Acho que depois de uns seis meses aqui, eu vi que eu tava meio que precisando realinhar de novo, assim, e aí faço uma vez a cada quinze dias, a gente sempre senta, conversa, bate um papo, uma hora de papo e tal, e me ajuda bastante, assim. Me conhece muito também. Tem gente que acha isso ruim, tem gente que acha que é bom, eu acho isso ótimo, acho que eu que... Não sou muito de... Embora eu fale muito, não sou muito de me abrir. É bom ter uma pessoa que sabe que... É isso que eu ia te perguntar. Porque, assim... Voltando um pouquinho. Eu comecei um assunto, depois emendei esse negócio da terapia. Algum momento... principalmente no exterior, talvez, né? Porque, enfim, a questão de recomeçar e pandemia e voltar a estudar, porque você já trabalhava no Brasil, né? Então voltar a estudar, recomeçar, trabalhando como hospitário. Teve algum momento que você se sentiu inferior à Bárbara porque ela já estava aqui há mais tempo? Não. Não me senti inferior. Não, me senti inferior, mas assim... Mas dá um sentimento de incapacidade, assim, não dessa coisa do... Não sei, não é uma jornada do ego nem nada, mas... Voltando àquela história que eu falei que eu vim pra cá como turista, existem vantagens e desvantagens. A vantagem foi que eu... não tive que pagar tudo, sei lá, não me descapitalizei daquela maneira que todo mundo se descapitaliza quando vem pra cá pela primeira vez, entendeu? Tem que pagar tudo a advance, não sei o quê, coisa e tal. Eu comecei a pagar aqui, sei lá, por termos, né? Cada três meses, quatro meses, alguma coisa assim. Mas a desvantagem foi que eu fiquei quatro meses sem poder trabalhar. Eu não podia ter nenhuma fonte de renda. Sim. Porque o meu bridging visa era... Ele tava preso a um turista que não me permite trabalhar. Então, assim, a Bárbara me ajudou muito, muito, muito. Me ajudou financeiramente também. Isso não mexeu com o teu ego? Não mexeu com o meu ego, não. Não mexeu com o meu ego, não. Mas, assim, eu ficava... sei lá. Chateado porque eu também, sei lá, a gente queria fazer alguma coisa e faltava dinheiro, ou tudo que a gente precisava fazer custava x e eu ficava, pô, tá caro e tal. Me sentia mal. Não era nada a ver com o meu ego, assim, eu queria estar contribuindo, só que eu não podia, não é uma coisa assim. E a gente tinha combinado desde o início que não valia a pena trabalhar cash-in-hand, por exemplo, entendeu? Não valia a pena você fazer nada que fosse te prejudicar. Eu fui trabalhar voluntário, me ajudou pra caramba, ocupar meu tempo, ocupar minha cabeça. mas a gente preferiu essa alternativa de não fazer nada, não trabalhar por fora e não correr o risco de, sabe, aquela coisa que era imediata ali, que ia me ajudar, tal, sei lá, os 200 dólares que me faziam falta, por exemplo, podiam carretar a minha partida do país e você não estaria aqui agora, entendeu? A gente não ia ter tudo que a gente, sei lá, um pequeno erro ali, uma coisa meio por falta de paciência, você vai desperdiçar uma oportunidade enorme, né, que é a sua estadia aqui. Entendi. E durante esse período, vai, desde que você tá aqui, porque no Brasil você tem muitos amigos, né, enfim, que já te conhecem da vida. Como foi chegar aqui, passar pelos perrengues, né, as coisas que acontecem na vida de imigrantes, que não são poucas. você, além da Bárbara, né, porque ter uma esposa já é um ponto de apoio, mas às vezes você precisa de uma outra pessoa pra, tipo, você abrir. Você teve essa pessoa, você tem essa pessoa, além da Bárbara, você teve essa pessoa durante esse... Não, aqui não. Não? Aqui não. Acho que foi uma série de fatores, assim, eu acho que essa chegada que eu ter ficado sem poder trabalhar, me deixou muito preso ao Brasil ainda, entendeu? Era um pouco solitário, assim. Entendi. Porque a Bárbara, quando ela chegou, já tinha uma carga de trabalho estabilizada. Final de semana, né? Trabalhava no hospital, trabalhava praticamente, sei lá, vou fazer de sábado à quarta. Uma coisa assim, uma carga estabilizada. Depois tinha escola, então, assim, era uma coisa... Já tinha uma rotina, né? Ela já tinha uma rotina. E eu entrei dentro da rotina dela sem rotina nenhuma. Eu resolvi me voluntariar, trabalhava no restaurante voluntário. Foi ali que eu aprendi a carregar três pratos, a tirar uma ordem, a começar. Começar mesmo. Me ajudou muito, pra minha cabeça principalmente. Mas eu ficava muito tempo em casa ainda. Eu ligava muito pra minha família, não ligava muito pra meus amigos, ligava muito pra minha família. E... Não sei, acho que... Eu fui me fechando, assim, numa coisa… Um movimento natural. Não… Não foi culpa de ninguém. Eu sou muito tímido também. As pessoas… Você tá olhando assim, porra, esse moleque não é tímido. Mentira. Mas eu sou tímido com as pessoas que eu não conheço, entendeu? Entendi. Então, se você for… Aquela coisa de querer fazer uma amizade nova, eu fico assim, porra… Por onde eu vou, sabe? Será que a pessoa vai me achar… Sabe? Será que a pessoa vai me achar legal? Pisando em ovos, né? É, você vai pisando em um ovo, aí você começa… você começa a agir de uma maneira que você não é, sabe? Por que que você acha que homem é tão difícil se abrir, ligar pra um amigo e falar a verdade, abrir seus sentimentos? Porque pra mulher é muito mais simples, parece, né? Homem é muito mais complicado, eu vejo muito mais difícil o homem chegar e falar, poxa, então... Cara, eu não... Você não acha, não? Eu, assim, eu vou falar por mim, né? Eu não tenho esse problema, assim, eu não tenho... Eu tenho essa vulnerabilidade, assim, mas... Que bom, porque é muito difícil hoje em dia, né? Você tem que saber com quem você se abre, né? Não é assim, só da pessoa certa. é que é a pessoa que vai te ajudar, né? Porque, assim, às vezes você tá falando alguma coisa que você tem que tomar um esporro, não necessariamente você quer escutar. Você só quer o colo, sabe? Você não quer, sei lá, se tá fazendo alguma coisa errada, tá fazendo uma coisa que o outro não vai achar aceitável, você vai, ah, não. Ah, tá beleza. Não, você tem que ir. Sei lá, eu acho que é uma... Porque é muito fácil você falar, eu só quero que você me escute, sabe? Não necessariamente você não quer que, ah, não. Preciso falar sobre isso, ah, não, tô tomando uma decisão errada, eu tô, sei lá. Tô mal, sabe? Não tô... Minha cabeça não tá bem, não tô dormindo, não sei o quê. Tô querendo... Tô querendo ir embora do Brasil. Tô querendo ir embora da Austrália. Alguma coisa. Isso nunca me passou pela minha cabeça, mas... Você não será mesmo que... Sabe? Vai ter um amigo que vai falar assim, porra, volta. Beleza, mas tem um cara que vai falar assim, ah não, por que você quer voltar, sabe? Sim. Ele vai te instigando ali e aquilo gera uma conversa, sabe? E você acha que, tipo, o seu tipo de amigos que hoje você tem aqui na Austrália é totalmente diferente dos amigos que você tem no Brasil? Não sei. Não sei. Não sei te responder essa pergunta. Cara, eu tento ser a mesma pessoa com todo mundo, entendeu? Não, porque você acaba... A gente muda. Sim, a gente muda. A gente passa por umas situações na vida que no Brasil a gente não passaria. Sim. Acho que a gente, a visão nossa acaba sendo moldada porque, enfim, convive com gente de diferentes mundos. A gente sofre preconceito. por ser imigrante. Passam nossos perrengues de tentar pular o muro e sair com o roxo, coisas que no Brasil talvez a gente não passaria. E aí eu acho... Será que o tipo de amizade hoje, até porque também é questão da idade, né? Que hoje você tem? Ah, eu mudei um pouco, assim, porque eu achava que as pessoas Eu não sei se eu tinha uma lista, eu gostava que as pessoas tinham que ser vulneráveis e como eu, gostassem de falar de coisas como eu. E eu não posso obrigar a pessoa a ser igual a mim, de compartilhar as coisas da maneira que eu compartilho. E da mesma forma que eu tenho um pouco de dificuldade de fazer amizade, a pessoa que eu estou acostumando pode ter a mesma dificuldade. Então hoje eu tento fazer essa máquina girar. Ainda é difícil pra mim, não vou te negar não. A coisa de às vezes procurar o amigo e tal, eu tenho um pouco dessa dificuldade. Não sei se depois de tanto tempo eu fico mais na minha, mais em casa e tal. Mas me faz falta ter um amigo. Vou dizer pra você que eu já me acostumei, assim. É uma vida um pouco mais... Solitária, assim. Não tenho a companhia da minha mulher, não tenho a companhia de vocês aqui e tal, não sei o quê. Mas, às vezes, é um pouco uma jornada solitária. E... Mas eu tenho me soltado, assim. Pô, tem sete anos e tá se soltando ainda. E vai continuar a vida. É, eu vou continuar me soltando, sabe? O grupo de amigos, as coisas vão mudando, sabe? Você vai conhecendo pessoas novas, as conversas vão ficando mais interessantes, você vai ficando mais à vontade. Você começa a falar sobre tudo aqui. Eu tô sentado falando com você, sabe, num podcast, assim. A gente tava conversando há pouco tempo se a Laura Cardoso faleceu. Não mata a minha velhinha. Porra, não mata a minha velhinha, não. Pra quem não sabe, o Marcel já trabalhou na Globo e um dos meus sonhos era trabalhar na Globo. E a gente tava conversando sobre os artistas e eu falei, ah, a Laura Cardoso já faleceu já há muito tempo. Não, tá maluco? Tá ruim. Patrimônio, histórica. E é isso, a conversa vai fluindo, entendeu? Mas isso também tem um pouco de culpa minha. Queria que tudo funcionasse assim, as amizades ou as conversas funcionassem da maneira que tem que ser e tudo mais, mas elas fluem naturalmente. E hoje eu acho que estou num ponto bem mais legal da minha trajetória. Me sinto mais à vontade pra conversar com as pessoas e tal. Mas no início foi difícil, assim, de você sair e de você... Se abrir, né? Encontrar a pessoa pra você se abrir. É, exatamente. É você começar do zero, né? Assim, embora eu já tivesse, já vim dentro de um relacionamento, você tem a pessoa do seu lado te dando apoio. Assim, você começa do zero, você tem que fazer amizade de novo. E muitas das minhas amizades, elas vão sendo feitas de uma forma muito natural, assim. Quando você vê, você já é amigo. Você teve alguma desilusão em amizade aqui? Aqui não. Não? Aqui não. Olha, que bacana. Ah, eu não vou, assim, olha... Teve aquela vez... Eu não vou dizer desilusão porque eu também nunca coloquei, assim... Eu acho que a desilusão vem de quando você... Coloca muito... Coloca muito expectativa, entendeu? Assim, já, já me frustrei. Ao mesmo tempo que eu me frustrei, eu também não coloquei perspectiva tanto assim, foda-se. Entendi. Então... Mas o que eu digo assim, alguém que você esperava é expectativa, né? E não teve reciprocidade. Ah, sim. Sim, sim, sim. Puts, aí é tenso, né? Ah, cara, mas... Aí nesse momento, terapia? Não. Acho que é só um alerta mesmo, só um pouco, sei lá, de conversar com a sua esposa, conversar com terapia também, né? Não terapia pra resolver, mas... E falar, cara, foda-se. E quando você passa um perrengue? Vai, terapia, você tem uma sessão marcada, né? Sei lá, um dia que você tá muito estressado, o que você... Cara... Eu, quando tenho estressado, tenho um péssimo hábito de comer doce. Comer doce escondido. Você não fica jogando videogame alguma coisa, tipo, ah, vou relaxar, alguma coisa pra te relaxar? Não, não, cara, eu... Sério, sei lá. Se eu estiver muito estressado, eu geralmente me fecho. Fico mais quieto e tal. Mas eu não consigo ficar muito quieto por muito tempo, assim, então... Mas é, eu geralmente me fecho um pouco, mais na minha. E aqui pra você, essa questão da saúde mental, quando você foi... Você chegou a ter alguma ajuda aqui na Austrália, por exemplo, procurar algum médico pra te passar remédio, aceitar? Sim, sim, sim. Como que foi? Foi difícil eles aceitarem? Cara, eu fui em dois médicos, né? Com a minha psicóloga, ela falou, Marcel, eu vejo alguns traços de você X, sei lá, de um pouco de ansiedade e tal, não sei o quê. Aí eu falei, ah, e demora um pouco também pra você se enxergar naquilo, né? Sim. Embora eu tenha, dou visibilidade, enxergo as pessoas que têm relação à saúde mental, tenho caso na família de saúde mental e tal, Fala assim, porra, com você, sabe? Aí você tem que... E ela falava assim, ah, Marcel, quem tem ansiedade às vezes toma um remédinho todo dia, não sei o quê. Falei, toma remédio todo dia e tal. E aí eu fui uma vez numa médica, ela falou, porra, preenche o questionário aí. Sabe? Aí eu fiquei puto, porque, cara, era um questionário assim, pegando assim, você tem vontade de se matar? Sim ou não? Talvez. Mentira! Era um questionário assim de... Não era uma coisa... Mas você chegou lá falando o que pra ela? Porque aqui tem muito... O índice de suicídio aqui é muito grande. Então, eles meio que super focam em saúde mental. Não, nunca falei nada parecido, não. Eu falei que, cara... Eu falei que às vezes eu sentia um pouco de ansiedade, me dava um pouco de agonia, um pouco de estresse. Aquela tensão que todo mundo vive aqui, né? Vista essas coisas. Você não sabe o que vai ser ali. Cada vez que você coloca... Sei lá, você se joga pra imigração, você não sabe o que vem. Você nunca sabe, entendeu? Além disso, tem o seu dia-a-dia, né, cara? Você tem que fazer a manutenção do seu relacionamento. Não é que seja uma coisa trabalhosa, mas tudo isso requer uma manutenção, sei lá, do seu relacionamento, da sua casa, do seu trabalho, da sua família que tá no Brasil, entendeu? Então, assim, é muita coisa. E eu conversando com a minha psicóloga, ela falou assim, eu acho que você tem uns traços de ansiedade e tal. E aí eu fui na superamédica, ela me mandou um questionário, eu respondi, ela falou, não, não tem nada não, tá bom. Eu falei, ah, beleza. Aí eu fui no segundo médico, conversei com ele, assim, aí ele, sabe, já se abriu, ele já se abriu mais, assim, se abriu pra mim num sentido de, porra, vamos conversar um pouco, me fala mais, tal. E aí eu fui lá e falei, ah, Marcel, acho, sim, concordo. Vamos tentar isso aqui e tal, vamos ser médicos todo dia e tal, tranquilo. Mas aí, na primeira que você foi a médica, você chegou a falar que você faz terapia no Brasil e foi diagnosticado? É, que era assim, que era uma sugestão, né? Eu tentei não falar muito de diagnóstico pra não entrar também no ego, quem é ela pra fazer isso, você não sabe, ela não é médica, não sei o quê. E eu tentei, eu tentei um pouco conduzir. Eu tinha muito mais confiança na minha psicóloga do que eu tinha na médica. Pra te ser bem sincero. Então, eu cheguei e ela não podia me receitar nada. Minha psicóloga não pode me receitar nada. Então, eu tive que tentar fazer por outros caminhos. Que não é o mercado negro. Não é o mercado negro. O primeiro... Se bem que a gente não pode falar mercado negro porque é racismo. Então, mercado ilegal. Mercado ilegal. E... Foi isso. Eu fui no segundo médico, ele me receitou e hoje eu tomo todo dia um remédio para ansiedade. Tem me feito muito bem, me ajudou muito, assim. Eu acho que... Esse remédio me deu muita clareza. Muitas perguntas que você me fez aqui agora, se você me perguntasse há dois anos atrás, eu não teria a clareza que eu tenho hoje de muitas coisas, inclusive de mim mesmo. Então, eu acho que me ajuda muito. Me ajuda muito, sim. Todo dia de manhã eu tomo, não deixo de tomar. Quando a gente foi para a Europa, agora deixei de tomar. E quando voltou, a primeira pico de ansiedade que eu tive quando a gente voltou para cá, já não foi maneira. E agora eu tomo todo dia de manhã, tá ali do lado da minha garrafa d'água. Você consegue identificar o seu pico de ansiedade quando você tá tipo... Você já teve aquele ataque de ansiedade? Não. Chegou a ter ataque pra ir no hospital? Não. Não, não, não. Nunca tive, não. Já tive no Brasil muito ruim, que era uma dor no braço, assim, cara. Parecia que eu tava tendo... Um infarto. Uma parada muito louca. Uma dormência. Mas aqui eu sei uns gatilhos, assim, sabe? Se eu estiver em lugar muito fechado, dentro de ônibus, não é muito claustrofóbico, não, mas se eu estiver com muito calor, sei lá, se eu entrar no ônibus, tá um frio do cacete lá de fora, se eu entro com casaco e eu não tiro o casaco, tá, aquele heater ligado, aquela coisa já me dá um, sabe, já me dá um estresse, assim, sabe. Já desci de ônibus, tal, pra dar uma respirada, tal. E é saber se conhecer também, sabe, eu não vou... Eu tô vendo aquele negócio vindo, assim, as coisas de cada um, né? Eu não enfrento, sabe? Eu desci do ônibus, tomei um ar, tal. Tem um canal muito aberto com a Bárbara sobre isso, assim, quando se eu tiver um pico, assim, meio de ansiedade, eu mando uma mensagem pra ela, falo, pô, tô ansioso. Só isso. E isso já me ajuda, assim. Às vezes é óbvio que ela não tem a disponibilidade de responder para mim no momento ali, sabe? Mas já me ajuda, acho que só de compartilhar com ela já me dá uma clareada. E qual o papel da Bárbara nessa sua relação com a ansiedade? Você acha que... sei lá, você falou que ela pode, que ela te ajuda, então seria só dela, só de mandar essa mensagem? Ou você acha, sei lá, que às vezes ela pode também ser um dos gatilhos? Não sei, alguma fala dela pode ser o gatilho? Eu não sei, eu tô te perguntando porque realmente eu não tenho a menor ideia de... Não, eu acho que com ela, às vezes é só a presença dela me acalma, assim. Não necessariamente a presença física, sabe? Só você saber que ela tá aí, né? É, só mandar a mensagem pra ela, falar Conscioso e tal. Ela fala que tá tudo bem, que você tá sentindo e tal, não sei o que. Fala assim, ah, vai lá embaixo, vai dar uma volta. Se eu tiver no ônibus, pô, desce do ônibus, sabe? Alguma coisa assim, geralmente é uma palavra... Ingela, assim, não é nada... Mas assim, saber que ela tá ali já me deixa mais... E você já teve que abrir pra, sei lá, pro seu chefe alguma coisa. Afetou o seu trabalho alguma vez? Você falou, poxa, eu tenho ansiedade. não consigo fazer agora, preciso de um tempo, tal. Você nunca... Já, já falei, já falei pro meu chefe, já. O chefe, na época que eu tinha, eu falei. E... E como que ele reagiu? Reagiu bem. Reagiu bem? Reagiu bem. Ele... Cara, eu... Ele já me falou das coisas de saúde mental também, assim. Então, era um cara na época, né? Era um homem. Muito, muito... Na verdade, assim, uma vez eu precisei, tava... Estava, sei lá, estava estressado e, tipo, tirei um dia, tirei um sick day, um mental sick day. E eu fui bem honesto pra ele. Falei, cara, tô com a cabeça boa hoje e tal. Não tá rolando pra mim trabalhar hoje, não. Tudo bem? Precisar. Eu dou uma logada aqui, mas eu, de fato, não tô bem. Ele falou, não, Marcelo. Tranquilo. Vai descansar e tal. Aí, no dia seguinte, ele falou, ah, também já fiz isso e tal. Acho que é válido, acho que é importante e tal. Então, eu não tenho... Eu não tenho problema muito de falar isso. E eu acho que lá onde eu trabalho, isso já tá mais... Isso já é mais uníssono, assim, as pessoas lá não têm muita... Eu não tenho vergonha de falar, sabe? Mas você vê que eu trabalho num ambiente mais feminino, assim. Então, eu acho que as pessoas... Eu acho que as pessoas se abrem com mais facilidade, assim. Você cria um ambiente mais... Eu acho que mais acolhedor, sabe? Eu acho que tem muita variação, né? Eu trabalho... não tem muita competitividade entre as pessoas, então acho que todo mundo fica mais confortável de falar, sabe? Você acha que se você estivesse trabalhando num ambiente mais masculino, você teria essa liberdade de falar, olha, tô tirando um dia livre por conta da minha saúde mental? Ou você, tipo, ia falar, ah, não, sei lá, tô doente, tô com dor de barriga pra não falar a verdade? Eu acho que eu falaria. Mas talvez, como eu falei, eu trabalho no governo, né? Então, se eu trabalhasse numa empresa privada, eu não sei o quão seria benéfico ou prejudicial pra mim, entendeu? Como as pessoas me enxergariam. Me enxergariam como um problema, sabe? Esse cara tem, sei lá, tem ansiedade, sei lá. E aí... Você acha que ainda tem esse tabu do tipo, que homem tendo ansiedade? Ah, com certeza, Bruna. Com certeza. Lá no trabalho, eles fazem aquele bagulho do... Aquele programa do Are You OK? Day. Sim. Eu acho... É outro setembro ou outubro, né? Eu acho que é. Lá no trabalho, assim, tem muita campanha, né? Eles fazem do... Do outubro rosa, fazem da coisa masculina, tem muita... Muita campanha. Essa semana teve um negócio de... Wear purple. Eu acho muito legal, assim. É vista roxa. É, que é sobre aceitação dentro da comunidade LGBTQIA+. Eu acho muito legal, assim. E o Are You OK? Você vê lá, assim. Dentro do meu trabalho, eles fazem muita iniciativa, porque as pessoas falam sobre isso, sabe? Cria-se um ambiente seguro. Mas você não acha que às vezes, infelizmente, há muita campanha e pouca ação? Sim. Entendeu? Tipo assim, aquela… Outubro rosa. Todo mundo usa rosa, mas poucas… Pouco… Realmente, tipo… Are you ok? Pergunta se você está bem. Mas tá, realmente, as pessoas perguntam se você está bem e querem saber realmente como você está. Ah, eu acho… Eu não perguntaria um are you ok pra pessoa que eu não conheço. Entendeu? Eu acho que o are you ok vai ser… você criar um canal seguro pra pessoa falar pra você se ela tá ok ou se ela não tá. E eu acho que, pra mim, eu acho que vai muito de compartilhar, entendeu? Eu acho que, assim, quando eu falei pro meu chefe que eu não tava bem, que eu tirei um... Ele de volta mandou pra mim. Eu, tá bem, já fiz isso. Então, sabe, eu acho que você criou um canal de comunicação seguro pra... com aquela pessoa. Você não seriamente vai falar sobre isso com... Porque eu acho que dependente de... Você falou da facilidade de comunicação entre mulher e homem, de se abrir e tal. Sim. Não necessariamente a pessoa quer, sei lá, uma mulher quer se abrir pra uma pessoa do seu próprio trabalho, entendeu? Sim. Ela se vê vulnerável ali também. Ela se abre pra galera dela e tal. Eu acho que... Muda muito, assim. No meu trabalho eu me sinto apoiado, então eu não tenho problemas de falar sobre isso. O que é bom, porque o que eu vejo, não o que eu vejo, né? O único vejo é a experiência que eu tenho do meu marido, o Kleber. É um ambiente... masculino, tóxico. No tóxico, o que eu digo é a mulher tem que ficar em casa, é mulher do lar, recatada do lar, sabe? O homem é o provedor. Então, talvez, não sei como que seria, mas a impressão que eu tenho, tipo, se eu chegar, se ele chegar e falar assim, ah, não, poxa, eu vou precisar tirar um day-off porque eu tô com mental health, Não sei, porque quando ele já falou que precisa pra cuidar do Lucas, já olharam torto pra ele, imagina a mental health. Depende da empresa, né? Depende muito da empresa. Você falou, assim, dessa mentalidade de mulher ter que estar no trabalho e tal. Curiosamente, no departamento que eu trabalho, no meu setor, na minha cabeça aqui das posições de liderança, gerentes, diretores, diretor executivo, Acho que só tem um gerente e um diretor. Todas as outras posições são ocupadas por mulheres. Olha, que bacana! A diretora do meu setor, que é o Public Affairs, que lida com comunidade, engagement, que é o que eu faço, mídia e comunicação corporativa, é uma mulher. É, é legal. Então, assim, tem muita adaptabilidade, né? Porque, assim, você vê a minha diretora executiva saindo 2h30 porque ela precisa fazer o pick-up do moleque dela. Entendeu? Teve o de um moleque semana passada. O moleque caiu, teve quase um início de concussão, ela levantou tudo e foi embora. E, assim, eles esperam que você faça isso também, entendeu? Não é uma coisa assim, ah, eu faço... Mas, governo, né? É governo. É governo. pra mim. Muita gente pergunta assim, ah, como é que tá seu trabalho, não sei o quê, não sei o quê, não sei o quê, e eu falo, pô, meu trabalho é legal pra caralho porque me proporciona isso. Aí você fala, aí todo mundo fala assim, é governo. É. Entendeu? É. E não é funcionário público, porque aqui não é que você trabalha pro governo, você é funcionário público. E no Brasil, se você trabalha pro governo, você é funcionário público. Não necessariamente. Não necessariamente. Eu trabalho por contrato, eu posso sim. Eles chamam aqui de ongoing, que você vai ficar lá, mas em qualquer momento você pode sair, não é? É diferente do Brasil. Mas, sim, é legal. É legal você sentir num... Ambiente acolhedor, né? Ambiente acolhedor. E pra mim, de tudo, assim. Você chega ali como, sabe? Como imigrante, sabe? Trabalhando no governo, como você vai se colocar. E olha que coisa, né? Imigrante trabalhando no governo australiano. É, o governo... Governo estadual eles permitem, governo federal eles não permitem. Se você trabalhar no governo federal, você tem que ser presidente permanente ou cidadão. Pra mim não faz muita diferença, né? Mas, cara, eu não vou te dizer que todo governo é assim porque eu não tenho visibilidade, mas, cara, no meu departamento é assim e é um ambiente acolhedor. Você chegar, você falar... e de você conversar mesmo com as pessoas. As pessoas falam um pouco mais e são um pouco mais compreensivas. Não vou te dizer que elas são mais compreensivas porque elas são só bondosas ou porque estão dentro da política do viano. Mas, cara, a minha experiência é ótima. É uma experiência legal e... E eu acho que isso contribui muito pra, assim, pra eu me manter equilibrado, sabe, pro trabalho. Que eu tá num ambiente saudável, que eu faça também o meu ambiente ser saudável. Sabe, eu... Quem não gosta de uma picuinha no trabalho? Porra! É, não. E hoje... Uma fofoquinha no trabalho é de lei. Hoje eu já tento não ficar, sacou? Eu falo pra Bárbara assim, pô... Me peguei reclamando pra caralho da minha gerente esses dias, assim, sabe? Uma coisa... Normal. Todo mundo tá puto, sabe? Mas eu falei... Pô, cara, tem tanta coisa boa no meu trabalho, sabe? Não vou ficar... E, assim, ao mesmo tempo que eu tô reclamando, eu, quando reclamo... Eu, quando reclamo, vocalizo a minha reclamação. Ela, pra mim, tem um efeito pior do que você deixá-la dentro de mim. Por quê? Porque eu acho que eu tô contaminando uma outra pessoa, sabe? Eu acho que eu tô dando, sei lá, dentro do trabalho. Não é falando pra você, eu falando pra... Aqui não, né? Aqui dá ruim. Mas não é falando pra minha mulher. Pô, minha gerente é chata pra caralho. Não é no caso. Mas... É diferente de eu falar pra ela. Sabe, você escutar alguém do seu trabalho, um colega seu, falando mal da sua gerente, e esperar que você faça o mesmo. E se você fala alguma coisa, sabe, você cria aquele círculo ali, um pouco vicioso, sabe, que a pessoa te vê como aliada pra você falar mal dela, e aí você não sai daquilo. E você perde um pouco da compreensão, você fica chato, sabe, tudo vai virar culpa da pessoa, quando geralmente não é culpa dela. E aí, assim, eu... E aí começa a contaminar e você começa a enxergar. Às vezes até você nem vê a pessoa desse jeito, mas aí só de a pessoa falar com você, você já começa... É verdade. Aí contaminou, pronto, já era, acabou. É, você fica vendo, sabe... Cabelo em ovo. Cabelo em ovo. Eu ia ficar, sabe, eu tento... Eu já... Com o tempo, você vai... Sei lá, eu fui aprendendo algumas coisas assim que... permeiam, assim, meus... Quais seriam suas técnicas? Chegou nesse nível... Ai, eu tô um dia mega estressado. Além do chocolate, que você já falou do chocolate. Mas, cara, mas chocolate não é legal, sabe? O chocolate é uma fuga que não me faz bem. Porque, assim, eu vou ali pro chocolate e tal, não sei o quê. Geralmente, como... Saio do trabalho, compro um chocolate, como, chego em casa, não sei que o tá acontecendo, mas... Uma barrinha ou, tipo, um barrão? É um barrão. Meu amigo diretor aqui sabe, ele tá rindo aqui, ó. A galera não tá vendo, mas, sabe, não é um... É a descarga, né? É igual quando, sei lá, você tá puto com alguém, você grita, aquela coisa, é aquilo. Então, assim... No meu caso, é o McDonald's. É, não é o quadradinho, tá ligado? É. E aquilo me faz passar mal, né? Porque tem aquele sugar hit lá, você tem aquele açúcar, vai pro caralho, e depois desce aquele negócio, assim, você fica letárgico e tal, e assim, depois eu me arrependo, aí você fica naquela, sabe, naquele ciclo culposo e tal, horroroso. Mas o meu geralmente é... Geralmente é doce. Geralmente é doce e que não me faz bem. Mas aí você fica naquela da recompensa, sabe? Porra, meu dia foi uma merda, tá, não sei o quê, vou sair daqui e vou comer um doce. Você nunca pensou em, sei lá, fazer um exercício físico? Te digo isso por experiência própria, porque nos momentos, meus momentos, com o mais, enfim, tensos da vida, às vezes eu... Recentemente eu voltei para a academia, e aí eu falo, ai, vou correr, vou para a academia. E ali, tipo, ai eu começo a viajar, ai eu sempre penso, ai, se eu gasto, não é me gastar? Não comigo, não comigo. Eu vou pra parte do viagem. Não, eu não tenho vontade. Zero de academia? Não, geralmente se eu entrar numa onda meio muito ansiosa... Você nunca pensou em health? Health é tipo saúde... Deixa eu reformular. Você acha que a sua saúde mental e a sua saúde corporal não se conectam no sentido do tipo, ah, se eu fizer um exercício e ir pra academia, vai melhorar a minha saúde mental. Não, sim, elas estão extremamente alinhadas. Ok. Absolutamente. Mas... Se eu... Você não usa a academia como uma vaula de escape pra melhorar a sua saúde mental? Ou a academia ou qualquer exercício físico que seja? Uso, mas às vezes a minha saúde... A coisa da minha saúde mental, se eu estiver muito estressado, se eu estiver assim, sabe, entrando naquelas... A primeira coisa que eu corto são os meus hábitos saudáveis, assim, sabe? Eu entro numa parada meio... Bad vibe. É. Não é bad vibe. Eu vou dizer assim, meio destrutivo, assim. Não é nada a ver com álcool, com droga e essas porras, não. Mas é geralmente com comida. Sabe? Geralmente é comida. Começo a comer mais do que devo. Começo a comer açúcar, a fuga. A gente cozinha todo dia lá em casa pra semana, aí eu vou lá, como na rua, do trabalho e tal, e entro nessas coisas assim, sabe? De ficar comendo, comendo, comendo, e aquilo me desregula totalmente. Então, quando tá tudo muito alinhado, assim, é de fato o combo. Então, se eu parar com um, eu acho que as coisas todas dão uma desandada, assim. E a questão da sociedade, você acha que desmorona? E aí, pra você voltar… Como que você faz pra voltar? Você tá entendendo? Tipo assim, ó… Tive uma criança com esse… teve aquela linha decrescente. Aí, quando que você… E nessa linha decrescente, você ainda continua tomando remédio todo dia, né? Como que você faz pra voltar? Porque esse recomeço aqui é muito difícil, né? Cara, às vezes demora uma semana, às vezes demora… Sabe? Essa semana, por exemplo, eu não tava afim de ir pra academia. Tava afim. E já, assim, já teve outras vezes que eu fui pra academia sem vontade, chegou lá, me deu uma crise de ansiedade e eu fui embora, porra. Então, assim, eu prefiro... Não tô com vontade, não tô com vontade. Não vou dizer que é a melhor saída, não. Às vezes você tem que ir. É o que funciona... Pra você. É o que funciona pra mim. É. Sabe? Eu não vou fazer um bagulho que eu não... Que eu, assim... E, cara, pra você malhar, sei lá, seis horas da manhã no frio que faz aqui, às vezes você tem que ir. Porque você tem que ir, sabe? É como você ir trabalhar. Tem que ir. Às vezes eu não tô afim, porra. E eu não vou ficar me empurrando, sabe? Tem um pouco também daquela coisa de você ser... de você estar muito tapinha nas costas, tá ligado? De você... Sabe, o negócio do doce é isso. Ah, eu mereço um doce. Sabe, hoje lá, porra, tá frio. Sabe aquela coisa de você olha pro céu assim, o céu tá azul, você vê uma nuvem, você fala assim, vai chover, não vou correr. Sabe? Então, é meio isso, assim. Então, isso é uma coisa que eu tenho... Também tenho que trabalhar em mim, essa coisa do... Sabe? De fazer carinho nas minhas próprias costas. Falar assim, ah, coitado. Tá cansado hoje, come um doce, sabe? Sabe? Come um pacote. Pacote de Tintã. Fala tu, diretor. Tintãzinha. Porra. Porra, Tintã, o cookie do Willis que eu sugeri pra ele, ele falou que vai ficar longe. Então depende muito, cara. E você... Agora vocês já aplicaram pro visto, mas até chegar essa fase, que é onde, realmente, até você chegar no estágio do tipo, ufa, recebeu visto, passou por muitas pressões. Ah, foi sinistro. Foi sinistro. Foi, né? Como que foi isso pra sua ansiedade? Foi bem ruim. Foi bem ruim. Porque você entra no campo da... Você entra no campo da incerteza, né? Porque... Eu tento explicar isso pras pessoas lá no Brasil, que eles querem... Pessoas que têm interesse, né? Como é que funciona o negócio do visto e tal. Eu explico, eu faço aquela, sabe, a analogia do funil, né? Que no início tem pra todo mundo, tem pra todo mundo, tem pra todo mundo. Sabe? Chega aqui embaixo e o pessoal conta a gota. É, é bem isso. E que não necessariamente vai ser você ou não vai ser você. Entendeu? E você fica naquela, ah, não, a minha idade, eu tenho, sei lá, 43 anos. Já tô velho, tô quase chegando no limite da imigração, que é 45. Será que vai dar certo? Será que não vai dar? E é aquela coisa, sabe? O tempo vai passando. Tá chegando. Você se sentiu cobrado, tipo, meu Deus do céu, tem que fazer isso acontecer. E aí aumentou essa ansiedade? Ah, aumenta, né, cara? Porque, assim... É porque a gente fez vários planos, né? Então, no início, o plano seria aplicar por mim. E eu tava naquela de chegado recém-mudado pra cá, e fica naquela, você tem que arrumar um trabalho, você come um trabalho na sua área, não sei o quê, e você vai. Você começa e você vai naquilo de... Não, não, não, porra, eu não sei quantos nãos eu tomei. Uma porrada, fiz entrevista, não passava. Isso mexe com a autoestima? Ah, mexe. Cara, mexe. Você chegou a se achar um merda? Tipo, porra, tanto não que eu tomei. Caramba, sou merda. Não, não cheguei a me achar um merda, não, mas eu ficava meio puto com o sistema, assim, sabe? Porque às vezes as empresas que me davam feedback voltavam pro mesmo canal, assim, de... Ah, a gente não vai te dar um... Você foi muito bem aqui, foi muito bem nesse aspecto aqui, parará, parará, mas assim, você não tem experiência na Austrália. Eu falei, ah, beleza. Muita gente passa por isso. O meu marido passou por isso. Ele chegava, o currículo dele, botia no lugar. Toma aqui o meu currículo. Não, você não tem experiência na Austrália. Você tem 15 anos no Brasil, mas aqui não serve de nada. Cara, eu tive duas entrevistas que eu fiz. Uma, a moça me deu espaço para feedback, que era uma empresa do governo. Acho que o governo também tem essa coisa. Ela me deu meia hora do tempo dela para me dar feedback. Olha que legal. Foi muito legal. E eu acho que ela tinha um pouco dessa empatia, porque ela compartilhou comigo que o marido dela, namorado, não me lembro, era chileno. Então o cara passou pelas mesmas paradas que a gente passou, entendeu? Entendi. Então ela entendia o ciclo da vitória, mais ou menos, ou da jornada. E ela falou, Marcel, pra mim é isso, é você chegar o cargo que você aplicou era muito sênior e você tem essas coisas contra você. Então, tenta procurar umas coisas mais entry level e tudo mais. Eu falei, ah, beleza. E fui procurando. Então, assim, na minha experiência, eu baixei muito, assim, cargo salarial e tudo mais. Eu aplicava para coisas, assim, bem mais básicas, muito mais aquém das minhas capacidades. Mas você aplicou aqui em Adelaide ou lá em Melba? Aqui. Lá em Adelaide. Lá em Melba eu nunca tinha aplicado pra nada. Talvez porque eu achasse que não dava. Foi uma grande besteira, assim. Uma grande besteira da minha parte, achar que a coisa da comunicação se limitava só a ser, sei lá... Agora, minha avó achava que eu tinha que citar no Jornal Nacional, e não é isso. Assim, a comunicação é muito ampla, você consegue trabalhar em várias áreas. E teve uma outra vez que a mulher perguntou, ela falou a mesma coisa pra mim. Aí eu falei, pô, posso falar um negócio? Ela falou, pode. Aí ela me perguntou se eu tinha alguma sugestão pra dar do processo seletivo. Eu falei, pô, se você vai me dar essa resposta de que eu não tenho experiência, eu nunca vou sair desse lugar. Eu falei, eu nunca vou sair desse lugar, porque eu vou ter sempre isso contra mim. Sim. Eu falei, você podia ser a primeira empresa a me ajudar a quebrar esse ciclo, entendeu? Pô, que boa resposta, hein? Ela é... Veja bem... Veja ela... Quebrou as pernas dela. Eu quebrei as pernas dela, mas assim, não mudou porra nenhuma, continuei sem o Jô, continuei sem a Varga. Mas assim, em contrapartida, foi isso, eu falei o que eu tinha vontade. Eu falei, cara, tem que ter alguém pra quebrar esse ciclo. E pra mim, foi aquela de novo, sabe? Eu comecei e parei muitas vezes essa coisa de aplicar. Porque era aquilo, você sentar todo dia no computador, acordava tipo todo dia, cinco e pouco da manhã, ia lá, botava currículo, mandava currículo, e você ficava assim. Botou o relógio, acordava lá, chuva do cacete, frio. Você falou assim, ah, lá vou eu de novo, sabe? Mandar currículo pra todo mundo, pra ouvir o mesmo caô de sempre, que não sei o quê, lá vou eu e tal. E aconteceu. E uma hora, Me disseram sim, cara, e tô eu aí. Então você não se sentiu merda, no momento? Mas te mexeu com a autoestima do tipo, poxa, até... Demorou quanto tempo até você... aplicar e conseguir esse emprego? Quase dois anos. Caramba. Que eu fui parando, né? Ah, tá. Assim, fui parando de exaustão, não fui parando de... Cara, que você vai... Você vai perdendo tesão, você vai perdendo a vontade. Aí você vai lá e fala assim, caralho, essa vaga é muito foda, não sei o que, combina comigo, essa vaga é o meu número. Aí tu vai mandar lá... Sabe, às vezes as pessoas nem te respondem. Porque é normal, né? É ruim, você cria expectativa para aquilo ali. Eu, quando mandava um currículo, embora eu mandasse uma porrada de lugar, você manda um pouco da sua energia junto, você manda um pouco da sua intenção. E você ficava naquela... Mais um, tal... E, engraçado, quando eu consegui o meu trabalho, Eu cheguei no dia da entrevista, eu tava sentado lá de fora, assim, na recepção, tava no lobby do prédio, assim, e eu comecei a ler lá a vaga de novo, aí eu falei, ah, vou embora. O que eu tô fazendo aqui? Bateu ansiedade. Cara, não bateu ansiedade, não. Me bateu, assim, ué, o que eu tô fazendo aqui? Vai ser de novo. E foi meio que na época que a gente tava, tipo, um mês e pouco de viajar, sabe? Falei, pô, tô gastando meu tempo, tô aqui nervoso pra caralho, vou gastar o tempo das pessoas, vou embora. Eu tava pronto pra sair, eu tive assim, pouco de ir embora. E aí eu resolvi... Decidi dar certo. Eu falei, ah, vou lá em cima. Foda-se, vou fazer entrevista e tal. E vou até sentar aqui direito. Eu comecei a entrevista assim, né, sabe? Que você começa assim, todo rígido e tal. E eu fui ficando à vontade, fui ficando à vontade, e quando eu vi, eu tava assim, mano. Eu tô falando contigo aqui. Tô sentando com as pernas reganhadas. Eu falei, caralho. Eu me dei conta do nada. E eu falei na entrevista, assim. Falei, desculpa, a gente tá numa postura horrível aqui. E eu fui ficando confortável do jeito que eu não percebi. porque eu acho que eu fui tão sem pressão. E no final, a mulher falou assim, ah, você tem alguma coisa pra falar? Eu falei, ah, tenho. Eu vou viajar, vou pro Brasil e tal. Não sei se isso é relevante ou não pra vaga. Eu só vou, sei lá, vou pro Brasil no final de dezembro, só volto no final de janeiro. Aí a mulher falou, não, isso não é... Isso não é... Impeditivo. Não é impeditivo, né? Não é um empecilho pra sua aplicação e tal. E foi isso. E aconteceu. Cara, eu vi um... Não é nem um papo de incentivo de maluco, não. Mas eu vi uma vez, teve o Grammy, eu acho, alguma premiação que a Viola Davis falou que o que separava as pessoas das conquistas eram as oportunidades, entendeu? E pra gente, cara, falta isso, falta oportunidade, não falta trabalho, não falta conhecimento, não falta vontade. Falta oportunidade, cara. Sabe, se ninguém abrir a porta pra você ali, como é que você entra, entendeu? E também, sei lá, de saúde mental, se ninguém abrir a porta pra você, como é que você fala dos seus problemas? Eu acho que é isso. Eu tentei levar isso um pouco pra minha vida, assim. Embora eu seja meio cagão, assim, mas eu tentei levar isso um pouco pra minha vida pra... pra ver se me tirava um pouco da minha zona de conforto. Tem essa... Cara, eu não tenho muitas frases que eu levo, não, mas tem essa e tem uma... Você já viu o filme do Nós Compramos um Zoológico? Não. Quer ver esse filme? Nunca vi. É meio velho, mas é bem maneiro. E aí o cara fala pra ele... Ele fala pro menininho... Tá gostando da menininha. Aí o pai dele fala pra ele assim, cara, só o que você precisa são 20 segundos de coragem insana, sabe? E coisas boas acontecerão dali. E é isso, assim, eu acho que esses meus 20 segundos de entrar e ir embora, de querer ficar ali no trabalho, foi isso, entendeu? E as coisas vão acontecendo. E quando você veio, porque você veio da pandemia, só voltando aqui só pra eu poder fazer uma meio que lógica na minha cabeça. Você ficou um tempo em Melbourne, pandemia, abriram as portas. A gente já tava com alguma ideia. Desculpa, eu te interrompi, vou continuar contando tua lógica. Fica aí. A gente acabou a pandemia e a gente já falou, cara, a gente tem que ir pra Adelaide. Por que Adelaide? A gente já sabia que a gente queria, a gente resolveu ficar. Quando a gente resolveu ficar, a gente falou, cara, a gente já tá aqui. Olha, eu cheguei em 2019, a pandemia demorou quase dois anos. Quando eu vi, eu tava três anos na Austrália e não tinha feito porra nenhuma. E durante a pandemia você já falou que não teve problema com a Babi, a Bárbara, né? Mas a sua saúde mental durante a pandemia? Porque foram oito meses, né? Sei lá, nove meses. Ah, foram muitas ondas, assim. Foram muitas ondas. Tinha época que era... Porque é difícil, né, cara? É você não poder fazer nada. Você não podia sair de casa. Então, sei lá, seu dia de folga, você ficava em casa. E não é ficar em casa porque você quer ficar em casa. Pra ficar em casa, você tem que ficar em casa. Sabe? Você podia sair, sei lá, o que a gente saía era ir na esquina, comprava um café e voltava. Era isso, não era aquele assim, ah... Ou passear no parque. Você não podia fazer nada. Então... A gente meio que se acostumou, assim, mas a gente foi... E o que vocês faziam? A gente foi errando e acertando, cara. A gente dormia pra cacete. Se tiver que a gente começou... Se tiver que a gente começou... a comer muito. Na hora que a gente começou a beber, sei lá, duas garrafas de vinho por dia. E você via, pô, essa porra tá errada, sabe? Não tá maneiro. E aí, sabe, ela começou... A Bárbara se disciplinou e eu começava a fazer academia online. Tinha uma moça que fazia live, aí ela comprou o vídeo dela lá e ela fazia lá em casa. Ela ficava pulando, só que a gente não tinha vizinho de baixo, então ela podia ficar pulando, não incomodava ninguém, e eu já não queria. Aí depois eu comecei a correr, sabe? Começava a correr... Mas como é que tu correia? Você era fechado, não podia... Podia fazer exercício durante tantas horas, tantos minutos do dia. Ah, tá. E aí eu corria. Assim, à noite e tal, eu corria meia hora, quarenta minutos. Depende muito do dia. E foi assim. E foi assim que a gente foi levando. Cara, quando você piscava, tu já tava dois meses em casa. Era um bagulho muito doido. Você não conseguia... A gente não... Você perdia a noção do tempo. Mas você, nessa época, não tava tomando remédio? Não, não tava. E aí, você fazia terapia toda semana, então, nesse caso? Provavelmente toda semana. Acho que era toda semana, não lembro. Cara, foi mudando, assim. Fiquei toda semana. Aí depois ficou meio apertado pra mim de grana, mudei pra 15 em 15 dias, aí chegou nesse 15 em 15 dias e ficou bom. Mas assim, eu tenho um canal de comunicação muito aberto com ela. Então, se der merda, se eu precisar, eu falo, pô, tem como? Geralmente ela vai achar um tempo, eu vou mandar um e-mail pra ela pra, sei lá, botar tudo ali que a minha cabeça tá pensando, tá passando, eu coloco tudo no e-mail e mando. Não é o caso hoje, mas durante a pandemia era muito isso, né? Porque... E fazer terapia com a Bárbara em casa. Com a Bárbara? É, ela não podia sair de casa, pô. É verdade. Aí tinha umas técnicas, né? Por exemplo, A gente morava numa casa de um quarto só. E qual era a técnica? Eu pegava uma caixa de som, essas pequenininhas, né? E botava na porta. Eu fazia dentro do quarto. Então, eu botava na porta pro som projetar pra sala de uma música. Eu botava baixo, não botava música alta pra cacete. Pra sair aquele som. E eu sentava pra parede do outro lado do quarto. Ah, tá. Então ela não conseguiu. E a minha voz não projetava, mas você nunca sabe. É. Entendeu? Você nunca sabe se a sua voz tá projetando aqui. Aqui a gente tá se ouvindo, mas assim, você nunca sabe. Porque você tá falando da sua, sabe... É, do seu sentimento. É. Embora, assim, você é casada, eu sou casado e tudo mais, você também tem a sua própria privacidade, assim, a sua... Você, você. É você, pô. Você tá ali. Sabe, você não quer... A sua ansiedade chegou a afetar o seu casamento? Eu acho que sim, em alguns momentos sim, né? Porque quando você entra nessa coisa, você se fecha um pouco, né? E quando você se fecha, você já não... Mas não ao extremo? Não, não, não ao extremo, mas... Cara, você tá mal, você fica menos participativo, entendeu? Você fica menos participativo em tudo, né? Você participa menos das tarefas da casa, você participa menos, sabe? Talvez você não seja uma... Uma boa companhia, sabe? Agora, só uma curiosidade. Você falou que começou a terapia dez anos atrás. Caramba, dez anos atrás, tipo assim, era muito… Terapia era mato. É, era mato, mato, mato, mato. Da onde que surgiu do tipo, bateu no peito, vou fazer terapia? Por quê? Né? Caramba. Ainda mais um homem. Homem fazendo terapia? Ah! Desculpa falar, mas é coisa de bicha. Porque, enfim, brasileiro, carioca, é a primeira coisa que fala. Infelizmente, preconceito é ridículo. Cara, o meu era mais assim... As pessoas falavam que era coisa de maluco. Não tinha nada relacionado à orientação sexual. Era mais coisa de maluco e tal. E... Ah, pra quê psicólogo, sabe? E qual foi o trigger? Tipo assim, qual foi o momento que você falou assim, não, cara, eu preciso fazer terapia. Ah, eu fui na minha médica, assim, na minha DP normal, a gente tava batendo um papo e eu tava assim... DP é médico geral. É, clínico geral. Eu não falava a combia, assim. Ela falou, pô, Marcelo, você tá... meio sem A com B, assim, sabe? Tá muito estressado, tá passando coisa na cabeça e tal. Sugiro... Tá aqui, ó. Liga pra ela, tá? É uma psicóloga de confiança. E eu geralmente não recomendo muitas psicólogas, tá? Mas essa daqui cuidou do meu sobrinho e tal. Acho que vai ser legal. E ela era, tipo assim, porta com porta, né? E no início eu não contei pra ninguém, assim. Não contei nem pra minha mãe. Mas você aceitou ser diagnosticado, tipo, tá, tá bom, eu preciso de uma terapia? Você aceitou? Na boa, na boa. Passei a mão no telefone e liguei na mesma hora. Passei a mão no telefone e liguei na mesma hora. Demorei pra caralho pra conseguir falar com ela, porque ela não tinha recepcionista, então eu tinha que ficar ligando, ligando, mandei e-mail. Cara, quando ela atendeu, eu achei que era porra, que eu tinha ligado o número errado, porque demorou tanto pra ela me atender. Enfim, aí tem 10 anos e também clicou, né? Eu já tinha feito terapia no ano passado, mas assim, é muito tempo atrás. E aí... Eu era jovem, né, Karen? Então, assim... Eu ia pra terapia porque eu queria que alguém concordasse comigo. Entendeu? Eu tava num relacionamento que não era maneiro. E aí, sim, eu tava... Sabe, todo mundo dizendo assim, sai. E eu, não. Não, vai dar tudo certo. E eu queria que alguém concordasse comigo. E nem ela concordava. Aí eu fiquei puto. Falei, caralho. O que eu tô fazendo aqui? Vai concordar comigo, não? E eu saí. Pra que a terapia é só pra concordar comigo? Qual foi? E aí, sabe, mas... Muito tempo depois, você vê que não... Que não é isso. Você tá ali pra ser... Pra ser confrontado. Não necessariamente, sabe... Você vai sair... Não necessariamente você vai sair da situação de terapia melhor do que você entrou. Às vezes até pior, né? Às vezes até pior, porra, porque assim... Ali, sabe, ali é um espaço que você... Cara, que se você não se abrir... Porra, você tá perdendo o seu tempo. Tá perdendo o seu dinheiro, porque não é um bagulho barato. Não é um bagulho barato. Sabe? Tá perdendo o tempo da pessoa que a gente podia estar entendendo uma outra pessoa que de fato tá ali querendo se abrir. Assim, a minha psicóloga. Ela não pega novos pacientes, ela não tem mais capacidade de pegar outros pacientes, sabe? E deve ter gente esperando. Aí eu vou ali pra quê? Pra ficar, porra, perdendo o tempo dela, perdendo o meu tempo, perdendo o meu dinheiro. Então... E você acha que ela ajudou durante a sua decisão de ficar, o seu casamento, essas coisas todas, esse período? Os altos, ok, mas eu tô falando momentos baixos. Você acha que ela deu uma ajudada a você regular suas emoções? Ah, com certeza. Com certeza. Com certeza. É, cara, eu acho que, assim, ela ajuda e também você ter um... um diálogo com a pessoa que tá com você também ajuda, mas... Não, mas óbvio que ela é o... Sabe, ela ali no final... Ela fazia diferença de, sei lá, às vezes de provar que eu estava errado, entendeu? Porque senão você está ali só naquela coisa, ah, não, eu estou certo. E você está errado quando você vê, sabe, você está precisando de uma terceira... Não que você precise de uma terceira opinião, mas você precisa, sei lá, de uma pessoa que você confia, que ela se... Sei lá, que ela não tem o pudor de falar o que ela quer pra você, sabe? Ela não está ali pra passar a mão na minha cabeça, entendeu? Não tá ali pra concordar com você. Não, não tá ali pra concordar comigo, e assim... E também foi... pra eu poder aceitar... que não é assim que funciona, entendeu? É igual amizade. Eu falei lá no início, você não pode ter um amigo que vai, sabe, vai só concordar com as porra que você faz. Você não... Mas você acha que talvez essa terapia substitui... Porque, enfim, você falou que quando... Antes você vinha pra casa e se abraçaram, beijaram. Beijaram que eu digo assim. Se abraçaram, choraram juntos, se abraçaram, né? Aquela coisa... E quando eu fui no Brasil, eu fui encontrar com ela. Aí, ó. Você acha que o fato de você ser amigo da sua terapeuta, que acabou, gerou um vínculo. Ah, gera um vínculo, mas ainda tem um distanciamento muito grande assim. Não, não. não, Sim, mas gerou um vínculo, aquele tipo assim, afetivo, no sentido, ah, não preciso ter tantos amigos porque eu tenho minha terapia. Não. Não. Não. Não. Ok. É porque é diferente, né, cara? É diferente. Não sei. Os amigos, é. Se hoje, vamos lá, se hoje, tirando a Bárbara, se hoje acontece um, sei lá, Meu Deus, preciso ligar pra alguém, deu uma merda muito grande. O que que você faz? Ah, depende. Depende. Eu acho que eu posso ligar pros meus pais. Dependendo da coisa, eu posso ligar ou pra minha mãe ou pro meu pai. Seriam as primeiras pessoas de SOS? Ah, sim. Sim. Meus pais. Tirando seus pais, Barbra e seus pais, algum amigo vem à cabeça? Eu tenho um amigo. Você tem um amigo que, tipo... Meu Deus. Tenho, tenho. Tenho um no Brasil, assim... Muitas amizades do Brasil, um tempo elas desaparecem, assim, não tem nada... Ninguém fez nada de errado. É só a vida acontecendo. É só a vida, assim, a vida da pessoa tá acontecendo lá, a sua tá aqui. A gente tá 13 horas do Rio, quase 14. Cara, não dá. Se a pessoa tá no pagode duas horas da tarde, aqui são duas horas da manhã. Ela não vai te ligar quando você tá dormindo, sabe? É coisa de ligar pro ex. Pô, confortou. Tô com saudade de... Porra, e quando eu cheguei aqui... E quando eu cheguei aqui, as pessoas ainda assim... Também estavam muito vinculadas a mim ainda lá. Quando lembravam de mim, sei lá, o cara tava no jogo do Vasco, era nove horas da, sei lá... Domingo, seis horas da tarde lá, tipo, sabe? Segunda, quarta manhã, o cara me ligava pra ir pra Vasco, não sei o quê. E o telefone tocava, você se assusta, né, cara? Porra. Mas também você pensa lá o que é um... Não, a gente que tá aqui, cara, assim, quando o telefone toca de madrugada, você fala assim, cara, deu alguma merda com o negócio da família e tal, não sei o quê. Aí tu ouve o Vasco, ó. Ai, seu filho da puta. Porra, ainda mais o Vasco, né, cara? O cara me liga pra fazer sofrer. O cara me... Mas demorou um pouco, assim. Mas eu tenho... Eu tenho amigos que... Tenho um amigo, principalmente, assim, que ele... Sim, que a gente manteve sempre contato, e sempre esse contato, assim, mais... Mais vulnerável, de mais conversa, de saber... Aconteceu alguma coisa com a... Tipo, ai, briguei muito feio com a Bárbara, tô ligando... É... É, ok. Cara, provavelmente não vai fazer isso, assim, ah, não... Tal, mas, é, você deu alguma merda, eu vou ligar pra ele, assim. Sabe, eu vou mandar uma mensagem... E a gente se acompanha, assim, de... A gente se acompanha de longe há muito tempo e é legal. É uma amizade muito boa de ter. E o que você acha, hoje, do Marcel, depois dessa experiência de dez anos de terapia, pandemia, imigrante, mudando de cidade, questão de visto, né, Ana? Qual a maior diferença hoje você vê do Marcel, hoje, do Marcel que chegou na Austrália? A maior diferença. Cara, eu acho que hoje eu sinto... Eu sinto orgulho de mim mesmo, assim, sabe? Eu tenho orgulho do caralho, do fudido da minha trajetória, assim, acho que foi legal pra caralho. Onde a gente chegou, onde a gente quer ir, sabe? Demorou muito pra cair essa... Dessa ficha de falar assim, caralho, legal. Consegui. Estamos conseguindo. Tem coisas que são conquistas individuais, porra, consegui. E muitas coisas estamos conseguindo. Eu lembro que quando eu consegui o trabalho, eu liguei pra Bárbara e falei assim, porra, conseguimos. Porque eu acho que foi um esforço nosso. meu, de estar ali, de fazer todo o processo, de usar meus conhecimentos. É um passo pro visto, né? Sim. Cara, foi uma conquista muito legal. E eu acho que foi assim, conseguimos, porque o suporte dela foi fundamental. E eu lembro disso com muita clareza, de ligar pra ela e falar, conseguimos. Pô, ela tá no meio do trabalho, não podia nem me atender, me atendeu, eu gritava, conseguimos, conseguimos, conseguimos, não sei o quê. Que era isso, assim, foi uma conquista nossa. Minha, mas nossa. Entendeu? E ela falava assim, não, é sua, não sei o que. Eu lembro que ela falava muito assim. E hoje eu vejo que também é minha. Eu tinha muita dificuldade de ver isso, assim. Das minhas, sabe? Das minhas conquistas, das minhas... Sei lá, sabe? Ter sido promovida no trabalho, estar fazendo um trabalho bom pra caralho. Demorou muito, assim. Acho que não tem que ser... Não é falta de humildade, mas você tem que reconhecer que você tá fazendo um bom trabalho. A sua qualidade pra se reconhecer também. Você tem que reconhecer... Tem que se reconhecer, entendeu? Você tem que... Também é uma forma que você tem que falar assim, ah, você tá fazendo uma parada errada, você tá, sei lá, tô comendo biscoito escondido, tô comendo chocolate escondido. Também tem que falar, pô, tá fazendo um trabalho bom pra caralho. Porque se eu não fizer isso, ninguém vai fazer por mim, cara. Ninguém vai fazer, é. E eu acho que, assim, essa jornada hoje é isso, assim, de... de eu poder dar mais valor a mim mesmo, as minhas próprias conquistas individuais, sabe? Os meus próprios esforços. Bom, já que o nome do podcast é Decidir Dar Certo, quando foi que vocês... O que é pra você, na verdade? O que é pra você dar certo? Eu acho que foi tudo que eu acabei de falar, assim, de dar certo Você tá com um baralho muito pessoal, né? Então, é. O que dá certo é ficar milionário. Ah, não. Mas depende, às vezes, pra pessoa… Você falou que queria ganhar na Mega Sena. Eu tô lá pra academia pra pensar em ganhar na Mega Sena. Mas, cara, pra mim, dar certo é isso, assim. Eu tá bem comigo mesmo, sabe? Hoje, é… Ter sido, de novo, ter sido promovido. E olhar pras pequenas pessoas e falar assim, pô, Marcelo, você tá fazendo um trabalho bom pra caralho. Eu falo assim… Não, tô só fazendo o meu trabalho. Não, porra, eu tô fazendo um trabalho bom pra caralho mesmo. Então isso pra mim ia dar certo. E quando que vocês decidiram dar certo? Porque são duas coisas, uma coisa é pra você dar certo... Quando a gente decidiu dar certo, eu acho que foi nessa... Cara, quando eu cheguei aqui, assim, quando a gente veio pra cá, a gente decidiu, quando eu me mudei pra cá, foi quando a gente decidiu dar certo. Não foi ele de primeira que deu certo, mas... Uma hora deu, foi. Uma hora deu. E quando a gente se mudou pra cá, foi a mesma coisa, assim. Porque recomeçaram, esses jogos recomeçaram. E a gente veio pra cá, eu nunca tinha vindo pra The Line. A gente chegou aqui de caminhão… com a nossa mudança, sem nunca ter botado o pé aqui, sim. E qual o porquê que é bem diferente de Melba, né? Foi muito, muito diferente. Bem diferente. E chegamos aqui, eu ficava assim, sabe? Quando tu chega na cidade e não... As coisas fechando de manhã, assim. É, fecham 4 da tarde, 5 da tarde. Cara, minha primeira impressão foi assim, cadê os prédios? Não tem prédio. As casas meio velhas, assim, na rua. E eu, literalmente, cheguei por aqui, por onde a gente mora. A gente mora perto da Luísa, eu e o diretor, a gente é vizinhos. E eu vim assim e falei, porra, que casa velha, maluco. Tudo casa velha. Tudo casa velha. Falei, puta que pariu, que casa velha. E a gente começou a olhar coisa de casa, as casas tudo caindo aos pedaços, eu falei, caralho, e agora? E aí? A gente tinha a nossa casa, essa unit do ponteiro Ferreng, o banheiro, a gente fala que é pra não. Porque a pia era dessa altura. E o chuveiro tinha um negócio pra apoiar o pé ou sei lá o que que era. Eu falei que era esse banheiro. E aquele chuveiro de cortina, velho. Nossa senhora, que aí quando bate o vento... A água vai mais fora do que dentro, né, cara? Puta que pariu. Nossa, as casas daqui são horríveis. Agora estão melhores, né? Ah, sim. Mas na época, assim, pelo madrugado... Cara, a gente deu sorte. Mas a primeira casa que a gente pegou aqui, tava tendo uma obra atrás, a gente não sabia. No primeiro dia, a casa tremia, assim, ó. Caralho! E eu tive que montar os móveis com fone de ouvido, assim. E aí... Deu certo. Deu certo, que bom que deu certo. Obrigada, Marcel. De nada, que eu agradeço. Obrigada por aceitar o convite, obrigada por expor, enfim, a sua vida, que é um assunto meio delicado, que é um tabu ainda, né? Infelizmente é um tabu. Não deveria ser, mas é um tabu. Enfim, olha, se você tá precisando de ajuda, aqui na Austrália você pode ligar pro Lifeline, que é 131114, Tem o Beyond Blue que é o 1-300-22-4636 e tem o Man's Line que é o 1-300-78-9978. E... Ah, obrigada, Marcelo. Obrigado mesmo por aceitar, por... Enfim, a sua história, a sua trajetória. Que isso. Um prazer. Um dia, quem sabe, eu volto aqui de novo pra contar a sua história com a Fabi. Eu volto. Porra, aí são quatro episódios. O diretor vai ficar... O diretor vai ficar puto. Obrigadão. Beijo, gente. Tchau, tchau. Tchau.
