O recomeço que ela não planejou (com Isadora Paixão)

Oi gente, meu nome é Luísa, seja bem-vindo ao Decidida Certo. Aqui a gente compartilha histórias reais de transformações, vitórias e principalmente os perrengues de quem decidiu viver fora do seu país. Hoje a gente vai conversar sobre as fronteiras invisíveis, sobre você estar no seu país de origem e mesmo estando em casa, entre aspas, sentir que não pertence mais. A gente vai conversar com a minha amiga Isadora, ela tá aqui. Ela passou por isso, ela voltou para o Brasil para passar, a princípio eram somente férias, acabou ficando lá por dois anos por conta da pandemia e voltou para a Austrália assim que as fronteiras abriram e recomeçou do zero. Bem-vinda, Isa! Obrigada! Obrigada! Vem cá, deixa eu te contar, quer dizer, me conta, na verdade. Como que você veio parar aqui na Austrália? Quando que foi? Por favor. Eu fui direto pra Sydney, eu tinha já um casal de amigos, que falaram muito bem, você vai amar a Austrália, você tem que vir aqui, é a sua cara. Aí eu tava morando em São Paulo, nessa época eu falei, quer saber, eu não aguento mais essa vida aí em São Paulo. Do nada, tipo, jogou… Joguei tudo pro alto. Ah, eu era nova, eu tava com 23, eu acho, eu falei… Na flor da idade! Na flor da idade! Falei, por que eu tô presa nesse mundo corporativo? Sai fora! Aí eu resolvi vir, mas com a ideia de ficar só seis meses. E já fazia seis anos. Aí você veio em 2017, ficou seis meses, aí voltou pro Brasil e aí foi quando... Não, porque você voltou só em... Não, eu renovei, resolvi... Eu ainda não tinha certeza que eu queria ficar, então eu vim por uns seis meses, aí o visto acabou, eu falei, vou renovar, acho que eu renovei pra mais um ano e fui ficando, até que eu resolvi Querer ficar mesmo. Falei, bom, então vou ter que seguir o caminho, fazer, né, pegar um emprego, fazer meus pontos pra continuar aqui. Aí foi quando eu resolvi ir pro Brasil, antes de eu começar essa caminhada. Em 2020, e aí foi quando eu fiquei presa lá na pandemia. E você foi o quê? Na época do Natal? Não, eu fui em fevereiro, logo depois que o Carnaval acabou. E foi, acho que junto com o primeiro caso de COVID. Poxa, nem aproveitou o Carnaval. Não, eu cheguei no final, cheguei na quarta-feira de cinzas. E aí, já foi. E o que acontece? Eu… Resolvi me mudar de cidade também, eu tava em Sidney, mas, né, quem mora aqui sabe que é mais fácil morar numa regional pra, né, pegar residência. Falei, ok. Então, eu fechei um ciclo ali, saí do meu trabalho, fiz um plano, tinha os meus amigos aqui em Adelaide, eu vou pro Brasil, passo um mês de férias, aproveito que eu tô com dinheiro, tô com tempo, não tenho um emprego, né, pra pedir férias. E depois eu me mudo direto pra Adelaide. E começo a vida, correndo atrás da residência e tudo mais. E é engraçado, né, que muita gente… Eu sou uma delas. Eu morava em Sidney. E eu decidi vir pra Adelaide por conta do visto. E assim, hoje eu não me vejo… Morando em Sidney. …em Sidney nunca mais. Não quero Sidney, é muita confusão. Que loucura. É muito cheio, né. É outro ritmo. Acho que depende da… da fase que você tá vivendo também, né. Acho que se você vem pra Austrália também pela primeira vez só pra curtir, conhecer um país, pô, não vem pra Adelaide. Mas na época, que era isso que eu queria. Eu queria só aprender, assim, uma nova cultura. Só assim, ter novas histórias pra contar. E aí, a Sidney era um mácio. Dora Aventureira. Exatamente, entendeu? Aí… E aí, você foi parar no Brasil. Como que foi? Tipo assim, beleza. Você chegou lá, ainda tava… As fronteiras abertas, tudo ok. É, foi. Aí eu cheguei. Com os meus dólares australianos. Falei, eu vou aproveitar. Tchá, tchá, tchá, tchá, tchá. Essa parte é a melhor parte de voltar pro Brasil. Exatamente. Eu tava assim, estrondando, fazendo o que eu queria fazer. Resolvi viajar. Por quê? Por que não? Eu recupero esse dinheiro em uma semana na Austrália. Fui pra Fernando de Noronha. Pô, arrasou na viagem. Foi. Sozinha. Arrasei. Gastei o que eu podia gastar. Fui lá no restaurante do Bruno Galeazzi. Zé Maria, Zé Maria. É arroz de polvo, é arroz de polvo. Comi tudo que eu podia comer, foi maravilhoso. Nadou com golfinho? Nadei com golfinho, tataruga, fiz tudo. Tirou foto com nurunha, nurunha, né? Só não fui no surubão, porque não me convidaram. Porque senão… Porque senão… Ai, menina, já tá. O assunto, covid, claro, né. Mas muito na China, acho que na Itália. Quando minha mãe me buscou dessa viagem na rodoviária lá em Santos, ela falou, filha, eu acho que você tinha que trocar sua passagem, porque o negócio tá pegando, vários países já estão fechando a fronteira, eu acho que você não vai conseguir voltar. Eu ainda tinha, assim, 15 dias praticamente. de viagem. Aí eu fiquei, nossa, será? A noite mesmo, a gente começou a ver os voos na internet, caríssimos. E com escalas malucas, assim. Brasil, Dubai, Hong Kong, por tantas horas pra chegar aqui, ó. Aí me bateu um medo, que eu falei, imagina eu fico presa em Hong Kong, sei lá. Em Dubai, o que eu faço? Porque tava tudo muito certo, né. Aí me deu um medo, ah, eu não vou resolver isso agora, não sei o que eu faço. A pandemia também, né? Começou até essa sensação de, meu Deus, a gente não sabe o que tá acontecendo. Vou ficar com a minha família. Dia seguinte a fronteira fechou. Então, escolheu. Eu escolhi ficar, mas também não tinha como fazer. E vem cá, como que foi estar no Brasil? Primeiro, durante a pandemia, né? Porque eu não tenho a menor ideia de como que foi a pandemia no Brasil, mas como que foi pra você? Olha, foi muito doido. Muito doido. Assim, claro, acho que todo mundo sofreu na pandemia. Os brasileiros, eu digo, aqui também, não podendo ir pro Brasil ver a família. Mas aqui eu acho que vocês ainda tinham uma sensação um pouco mais de segurança, né? Porque o vírus foi contido. assim, não tinha tantos casos. O Brasil dava muito medo. Era só notícia na televisão, cada vez mais casos, familiares, amigos, próximos. Dava muito medo, assim. E foi uma loucura também, né? Brasil sendo Brasil. Cada história maluca, acompanhando também na televisão, todo desenrolar, tipo, de vacina e tudo mais. Era muita coisa acontecendo. É, aqui na Adelaide, vou te falar que eu acho que a gente não sofreu tanto. Acho que Melbourne sofreu… Acho que ficaram sete ou oito meses, assim, de lockdown. Foi tenso. Acho que foi da Austrália o lugar que mais ficou de lockdown. Aqui… Não foi muito, né. Tipo assim, sofreu quem ficou no hospitality, né. Mas eu era babá na época. Não sofri nada, continuei trabalhando de boa. A máscara, eu só usei… Você lembra do… Ah, você não tava aqui. Mas teve um cara, um imigrante, que tava trabalhando de forma ilegal. Acabou trabalhando mais de 20 horas, e aí foi contaminado. Não queria falar como é que… Tavam traqueando o cara, eu vi essa história. E aí, tipo, ficou uma loucura. Foi a única vez… que todo mundo foi obrigado a usar máscara, porque senão… Tipo assim, o pessoal usava mais por precaução mas não era obrigatório, igual era no Brasil. No Brasil era tipo, você tem que usar máscara, máscara, máscara. Era. E assim, foi virando uma moda também. Tinha máscara… Eu tinha várias coloridas, com bolinha. Eu voltei pro Brasil agora de férias e tava na minha gaveta as máscaras que eu usei. Gente, que loucura, né. E tá, chegou a pandemia, ficou presa. E aí, tu pensou o quê? Eu e todo mundo, ninguém pensou que ia durar tanto tempo, né. Ah, esse pessoal… Quando abrir, eu volto. É, eu achei… Todo mundo fica em casa por 15 dias. Eu tava lá, tudo bem, eu posso ficar. Posso ficar no Brasil mais um mês? Por que não? Não imaginei. Aproveito e continuo com a minha família, mato saudade. Exato, não tinha nem dado tempo de eu ver todo mundo, né. Mas aí a gente foi vendo, né, que durou bastante tempo. Eu, inclusive, não tinha nem desfeito a minha mala. E minha mala era mala de verão, assim, só tinha pra um mês. Biquíni, roupa de verão e lá, intacta. Eu usava, colocava pra lavar, colocava na mala de novo, até que minha mãe chegou e falou, filha, eu acho que isso aí não vai voltar pro Austrália tão cedo. É melhor desfazer essa mala. Aí foi um choque, assim, foi difícil essa sensação de que Os seus planos pararam e não foi por sua escolha, foi adrúpto, assim, você não volta. Todas as minhas coisas estavam aqui. É isso que eu ia te perguntar, tipo, como é que tu fez... Ok, fechou as fronteiras. E aí, o que tu fez com as tuas coisas aqui? Então, eu falo que eu dei sorte no meu azar, porque... Eu, como tinha esse plano de vir pra Adelaide, eu já tinha saído do meu trabalho, eu não tinha escola, e eu já tinha saído do meu aluguel. Então, eu tinha feito as minhas malas, já tinha pecado tudo, e tava com as minhas amigas, já tinha enviado umas caixas pra Adelaide também. Então, tá tudo guardadinho. Então, pelo menos, assim, minhas amigas não tiveram que guardar pra mim ou minhas coisas estavam perdidas ou coisa do tipo. Inclusive, ficou com a minha amiga por dois anos na minha mala. Ela viajou por Sidney com ela. Ainda bem que tu não teve que pagar aluguel, né? Porque aqui é aluguel por semana. Sim, muita gente, né? Ficou presa com conta lá e cá, imagina? Sem ter renda em dólar e pagando muito dinheiro. Eu não tive esse problema. Então, era só essa sensação de, poxa, eu queria as minhas coisas. Eu tava usando coisas da minha mãe. Porque também não tinha nem shopping pra comprar roupa. Então, eu usava roupa da minha mãe. Ah, sente aquela falta de pertencimento também, né? Porque até as suas coisas que fazem parte da sua identidade não estavam comigo, né? Estavam aqui. E eu queria estar aqui. Aquela blusa da tua mãe velha, que tipo, putz! De vereadora. Esse era meu pijama. Não, é complicado mesmo, putz. E aí você, enfim, chegou, viu que não vai abrir. O que passou na sua cabeça? E agora, o que eu faço? É, aí foi, assim, eu preciso voltar a viver no Brasil, né. Se não, eu vou ficar nessa tristeza, vendo… Nossa, eu queria morrer vendo os stories do pessoal aqui. Porque também, vocês não estavam em isolamento, né? Fica… gente, a vida, ela tá tão boa, e eu tô aqui presa na minha casa. Mas… Eu consegui, assim, não, beleza, vou voltar a trabalhar. Eu acho que depois dos primeiros seis meses, que eu insisti, né? Viu que não ia acontecer. Eu voltei a trabalhar pra empresa que eu trabalhava antes de vir pra Austrália e tava 100% home office, né? Que era em São Paulo antes. Então, foi fácil, porque eu continuei na casa dos meus pais em Santos e fiquei trabalhando de lá. E você, tipo, porque a cultura daqui é totalmente diferente da cultura do Brasil. Quando você chegou lá, uma coisa é você passar férias um mês. E ainda assim, eu passei lá, enfim, estive lá agora há pouco tempo. Um mês já senti, tipo, não é o meu lugar. Tipo, é só realmente férias. Não pertenço a isso aqui. Pra você, ok, um mês, ok. Daqui a pouco você viu, tipo, dois, três, quatro. Como que foi esse choque? Foi, foi difícil. Eu também não… Logo quando eu tava de férias ainda, também. Quando tava tudo bem, eu não… Eu ficava, caraca. Não me vejo mais aqui, me sentia bem desconexa com o pessoal. Então, eu tava com esse sentimento. Só que eu acho que foi bom ter voltado a trabalhar. Porque ocupou a minha cabeça também. Ah, psicologicamente, é. Porque eu só ficava pensando, ouvindo notícia. Quando é que vai abrir? Vale a pena ver de novo? Entendeu? Nossa, vi tudo! Vi todas as novelas. Ana Maria Braga, Encontro com a Fátima Bernardes. Eu não aguentava mais. Então, foi bom. Até pelo lance da pandemia mesmo, né. Toda essa notícia, todo esse medo, foi bom pra distrair a cabeça. Então, acho que eu fui só no embalo, sabe? Fui trabalhando, fazendo uma terapia também, né? Porque é necessário. Mas voltei pra uma vida normal, assim. Normal, né? Foi bom. Depois, quando abriu, né, a gente começou a tomar vacina. E foi melhorando a restrição do isolamento. Aí, quando eu podia ver meus amigos, minha família. Aí eu fui vivendo o Brasil de novo. Aí foi bem melhor. E aí você, beleza, abriu, começaram a abrir as coisas e tudo mais. Começou a viver o Brasil. E aí? Não, acho que aqui ainda não é o meu lugar. Quero voltar pra Austrália. Qual foi, tipo, o momento? Não, porque você já tava trabalhando, já voltou pra cultura brasileira. Vivendo lá 100%. Foi difícil, eu ainda tava na minha cabeça. Não, tá tudo ótimo, tá tudo legal, mas eu vou voltar pra Austrália. Conversar com a minha família, pessoal. Ah, agora você já tá trabalhando, já tá, né, vida normal. Vai ficar aqui? Não, vou voltar. Por quê? É complicado, assim, eu gosto muito daqui. Então, eu conseguia me relacionar muito bem com a cultura daqui. Nunca foi um problema, na verdade, me adaptar à cultura daqui. Ai, peraí, que eu tô tentando, peraí pra ficar uma posição. Ah, vai! E aí, eu fiquei, bom, eu gosto daqui, gosto de estar, na verdade, eu gosto de estar com as pessoas, né? Com os meus amigos e minha família. Não estar vivendo a roda a vida aqui, né? Eu queria fazer coisas diferentes, né? Aqui eu acho que a gente, não sei se é porque a gente é imigrante e a gente quer viver cada day off como se fosse o último, a gente explora mais. Tem mais condições aqui também, é mais seguro, tem mais estrutura, né? Tem toda uma questão. Mas o estilo de vida que eu não conseguia encaixar lá no Brasil. É totalmente diferente. É. Até, assim, Conversando com as pessoas, não tinha essa reciprocidade. É isso que eu tava a fim de fazer esse final de semana. Vamos, sei lá, pegar um carro e conhecer uma cidade próxima. Aqui a gente faz isso muito. Eu acho que… Eu não cheguei a ficar seis meses no Brasil, fiquei um mês no máximo. Mas quando eu cheguei lá, eu vi que, tipo, a conversa já é outra. O que eles pensam da vida, tipo, já não encaixa no que eu penso. Parece que eu evoluí e eles estão, tipo, no mesmo lugar, não foram pra… Não que não foram pra frente nem pra trás, mas é que… É só uma sensação, né. É uma sensação que tipo… Eu acho que como imigrante, a gente conhece tanta gente. A gente acaba lidando com muita gente diferente. A gente acaba aprendendo a… Conviver. Com certeza. De uma forma diferente. Fora, como você falou, que aqui tem muito... É um botânico que garda indiferente, é uma praia diferente, que a gente consegue pegar um carro, vai, daqui a meia hora, uma hora, passa no final de semana, que lá, primeiro, que é muito mais caro, para você fazer esse passeio, e fora que, enfim, não é tão bonito. Alguns lugares. Pernambuco e Noruega é lindo. Eu acho que é muito fator grana. E também você mora lá, então você não tem tanto interesse. Igual, você é do Rio. Pô, eu conheço muitos cariocas, inclusive moro com um, que nunca tinha ido pro Cristo. Eu acho que é porque tá aqui, eu moro aqui, tá ali, uma coisa meio… Mas é caro. Mas é caro, é caro. Mas você também é de lá, então meio que, ah… Eu posso ir de outra vez, não liga tanto. Lá em Santos, a gente tem o litoral norte. Não tem tanta essa coisa de vamos sempre conhecer uma praia nova. Mas ó, eu fui… Quando a gente esteve agora no Rio, a gente foi no Aquario. Cara, se eu fosse no Brasil, eu não ia gastar cem reais pra ir num passeio pra ver peixe. É interessante, mas assim, você como carioca, você, pô, eu prefiro gastar cem reais, sei lá. fazendo outra coisa do que 100 reais indo no aquario. Fica uma coisa meio turística, né? É, uma coisa turística. E aqui não é. Não tem uma coisa 100% turística. O que é 100% turística aqui é de graça. Tipo, botânico e gado, essas coisas, você vai de graça. Então, tem essa questão também, né? Sim, concordo. Mas quando eu já estava adaptada, assim, foi muito difícil. Por mais que eu faça… Não, eu quero voltar pra Austrália. Foi difícil, assim, também, tomar essa decisão. E aí, quando foi que você, tipo assim, olha, não, não é aqui mais o meu lugar, eu preciso voltar para a Austrália? Eu deixei para o destino, porque foi realmente, começou a ficar meio nebuloso o que eu queria, porque estava muito bom também, né? do ano certo, mas… Peraí, Abriaz, você já tinha um relacionamento lá com alguém, não? Ou você tava só solteira? Porque solteira é mais tranquilo. Ou você tem um relacionamento… Ah, tá. Eu ainda era Dora Aventureira, solteira. Mas tinha umas amigas de infância, né. Acho que essas coisas… Não sei. Tava vivendo um momento bem legal também, depois, né. Quando tava já tudo melhor, não tinha mais restrições de pandemia. Aí começaram, né, os países abrirem. A Austrália vai abrir em breve, que eu acho que foi uma das últimas. Foi, a gente foi quase... Bizarro. Mas eu também tava nessa de, bom, meu visto acabou nesse tempo. Eu tinha um visto de dois anos, quando eu fiquei dois anos presa. Eu acho que quando eu fui pra lá, eu tinha um visto de um ano e nove meses. Enfim, o visto acabou e eles não... se pronunciaram, o que ia acontecer com o pessoal que ficou do lado de fora. Eu também não vou voltar pra Austrália e fazer tudo de novo, né? Me matricular em curso, pagar curso, virar estudante de novo. Em Sydney, eu fiz um Master, então eu estudei por dois anos. Quando eu fui renovando, acabou que virou dois anos de curso. Eu não vou fazer isso de novo, é muito dinheiro, muito esforço. E assim, eu já vivi essa etapa, né? Então, assim, se for pra voltar, eu não vou voltar nesses termos. Aí, abriram acho que as fronteiras em dezembro. Em fevereiro, saiu uma notícia. Quem foi prejudicado, ficou preso, né, tal, nos vistos tais, tais, tais, vai receber o visto de volta. É só aplicar pra uma extensão. Aí é o de China falando pra... Como é que eu falo? Então deixa pra lá. Eu não, eu vou viver esse visto que eu consegui, que é o visto de trabalho, né? Quem mora aqui sabe o 485, que te dá os direitos de trabalhar full time, sem precisar estudar. Poxa, Eu não vivi nada desse visto, eu vivi ele todo no Brasil. Então, eu falei, não, é o destino, mostrou que é pra eu voltar. Aí você voltou direto pra Adelaide? Aí eu voltei direto, eu voltei em maio de 2022. E vim direto pra Adelaide, aí depois eu fui buscar minhas coisas. E aí, vem cá, como é que... Beleza, chegou aqui... Qual foi a sensação? Porque é comum começar do zero, né? Porque ficou dois anos no Brasil, viveu tudo... Você chegou aqui já com as três vacinas? Já. Já. Aí qual foi a sensação? Porque, primeiro, Sidney é uma coisa. Chegar em Sidney já é tipo... Cheguei em Sidney. Agora chegar em Adelaide é tipo... Meu Deus! Porque é muito calmo aqui, né? É bem diferente. Mas eu te falo, eu já conhecia, né? Então não foi tão chocante porque eu já tinha vindo passear. Mas eu tinha amigas já aqui e me falavam, né? Ah, aqui é complicado, não tem nada pra fazer, é chato, não sei o quê. Mas eu queria voltar pra Austrália, assim, eu tinha que vir pra cá, porque era visto. E, na real, quando eu saí de Sydney, eu já tava pronta pra sair de Sydney, eu já tava querendo algo a mais na minha vida, assim. Até um relacionamento, uma coisa mais pacífica, né? Sydney eu tava uma vida... Ah, festa, viajando, Dora Aventureira, curtindo. E muitos amigos também iam embora. Eu queria algo que fosse mais enraizado, assim. Amigos que querem ficar aqui. E acho que muita gente que vem até pra cá é porque quer, né? Então... Foi uma sensação, assim, de meu Deus, tô começando do zero de novo. Conhecer pessoas, emprego… Eu não tinha nada, né. Só tinha um visto e um sonho. Nem as roupas que eu tinha, que estavam tudo aqui. Não, mas agora eu tinha adquirido roupas novas. Porque o JP já tinha aberto. Já tinha, já tava assalariada, né. Mas… Foi uma outra Austrália que eu vivi, foi Isadora 2.0 aqui, foi totalmente diferente do que eu vivi antes. Se você comparar, metaforicamente falando, na sua bagagem, quando você veio em 2017 e quando você chegou aqui em 2022, o que você vê de diferente numa Isadora? Assim, o que você… Comparando. Muita coisa. O cabelo, pra começar. É que antes era lisa… Era lisadíssima, fiz transição. Voltei outra pessoa. Mas, poxa… Muita coisa, assim, eu… No meu pós… Não, desculpa. Pré-pandemia, né. Aqui na Austrália vai a primeira parte. Eu não tinha noção que eu era capaz de trabalhar na minha área, por exemplo. Eu trabalhava como cleaner, hospitality, fazia várias functions, servia, mas eu nunca achei que ia ser possível trabalhar com auditoria, que é a minha área, auditoria financeira, aqui. Então, eu não achava que eu ia conseguir por vários motivos, meio que como se eu não fosse capaz mesmo de conseguir. Por causa da barreira do inglês? do inglês por ser imigrante, mas principalmente, eu tinha inglês, mas eu não achava que era bom o suficiente, né? E até por estar tão afastada da área por um tempo, né? Que como eu insignei por uns três anos, mais ou menos, eu fiquei três anos fora da área. E eu retornei na pandemia, eu vi, não, eu sei, eu sei, eu sou auditora, eu sei o que eu tô fazendo. Então, quando eu voltei, eu voltei muito mais segura de mim, sabe? De não, pô, como assim? Eu consigo, eu sei o que eu tô fazendo, né? Então, e não só no meu profissional. Acho que eu voltei segura de mim. De quem você é, né? De quem eu era, com quem eu queria estar perto. Porque, nossa, na pandemia, o que a gente mais fazia era refletir sobre a vida, né? Porque você via muita gente... internada, passando por várias coisas. Então, eu sei agora o que eu quero pra mim, sabe? Então, eu acho que eu vim… Mais determinada. Mais determinada, sim. Mais segura e querendo ficar, né? Então, assim, com um projeto de eu ser o que eu quero. E aí, quando você veio, você tipo, não, já sei o que eu quero. Você já foi buscando emprego na sua área? Foi. E aí, conseguiu? Consegui. Menina, eu cheguei aqui dia 5 de maio. Eu comecei o trabalho dia 25. Mentira! Nessa empresa que você tá hoje? Eu tô até hoje. Mas como que foi? Porque, enfim, tem a questão do inglês. É, você, tipo, não... Eu sou Isadora, porra! Ah, sacou? Isadora Paixão. Não, foi, eu coloquei meu currículo no CIC. E se que pra quem não sabe é um site de emprego, de busca de emprego. É tipo a Cato ou algo assim no Brasil. Sim. Coloquei, até que me ligaram, uma headhunter me ligou. Posso espalhar seu currículo por aí? Eu falo, bora lá. E foi tudo muito rápido. Não cobra, por favor, sem cobrar. Não tô pagando, não tô podendo. Não tô podendo. Foi muito rápido. E aí, fiz a entrevista, é lógico, né. Eu estava me sentindo mais segura, mas no fundo, eu não vou conseguir. Eu tô louca, eu não vou conseguir nada. Mas deu tudo certo. E qual foi a barreira? Bom, enfim, a sua empresa é grande, bem grande, né? E tem muito imigrante lá? Tem. Muito. Gente, tudo que é país. Eu sou a única brasileira, por incrível que pareça, mas tem muito imigrante. Então você não se sentiu... Não. Tipo... Assim, lógico, acho que a gente sempre sente em algum momento, mas eu me sinto muito confortável também por causa disso. Ok. Porque eu posso fazer um erro gramatical que é normal, A gente se enrola, mas o colega de trabalho também. Então, eu me sinto muito confortável. Lógico, no começo foi um desafio, porque era a profissão que eu tinha, porém em outra língua. Em outra língua, sim. Então, as expressões técnicas, assim, eu não tinha muito conhecimento, né? Então, eu sabia o que eu tava fazendo, mas não sabia me expressar. Então, era um pouco frustrante. Mas foi coisa de tempo mesmo, acho que uns seis meses. readaptar e no fim deu tudo certo. E você acha que por você ser imigrante, você acha que teve alguma... Enfim, a sua empresa é grande e tem bastante imigrante, como você falou, mas você acha que por você ter sido a única brasileira, talvez por ser mulher, sei lá, teve alguma dificuldade que talvez um imigrante, sendo homem, não enfrentou? Porque hoje você já é o que? Sênior, né? Sim. É, enfim. Ah, eu acho que tem, sim, umas entrelinhas ali, que seria mais fácil. É tipo aquela coisa tipo, de chavada, né? Aquelas coisas bem disfarçadas. É, disfarçadas, assim. Eu lido muito com cliente, então também tem essa lida com cliente. Eu vejo, às vezes, não me levam muito a sério, né? Então, né? Eu sei o que eu tô falando. e te olha com uma cara meio que... esse é o inglês aí? Tá me entendendo, não tá? Então pronto. Mas, no geral, assim, a experiência foi positiva. Mas já teve alguém que falou assim, ah, brasileira, tipo... Ah, já, já. Já, esses veios, principalmente os australianos. Esses australianos não tem jeito, né? É, não, sempre tem um. Apesar que eu via mais graça em Sydney do que aqui. Sério? Por conta do hospitality, né? Trabalhar com público, limpeza, servindo mesa, essas coisas assim, né? Isso eu via muito mais graça. Até de dar gorjeta. Só para o brasileiro. O que, Monca? Pode? Eu tô até com medo de pegar esse dinheiro, mas eu tenho um aluguel para pagar. E num momento, quando você voltou, você pensou em desistir? Quando eu voltei, foi difícil a separação com a família, porque eu acho que eu também, como voltei diferente, eu voltei muito apegada. Você ficou dois anos lá, teoricamente presa com eles, né? Sim, e acho que dando valor a coisas que eu não dava antes, talvez, na minha primeira vinda. E também era uma coisa mais vida louca, assim, de sempre estudando e tudo mais, mas mais jovem. Aí agora já é, bom, se eu quero construir minha casa lá, Eu vou com a sensação do tipo, eu não vou mais morar aqui, eu vou morar lá. A minha família vai ficar aqui. É, dessa sensação assim. Então, no comecinho, não era de desistir, mas era de, ai, será que eu tomei a decisão certa realmente de voltar? Me questionei um pouco, sim, pela saudade. Poxa, eu tava toda acertada já lá, né, com o emprego, com amigos. Perto da família. Perto da família. E em Santos, que eu adoro. Então, foi uma coisa meio que louca. Larguei tudo e voltei pra viver um sonho que eu não tinha nada certo, né? Mas deu tudo tão certo, que eu acho que só mostrou que eu tomei a decisão certa mesmo, né? Tudo me mostrou que tudo fluiu. Quando eu cheguei em Adelaide, acho que foi no terceiro dia, assim. Eu fui encontrar uma amiga, duas amigas, na cidade. E a gente foi almoçar e tal. E uma delas me conhecia lá de Sidney, e agora está morando aqui. Ela falou, ai, bem-vinda, Adelaide. Você vai adorar. Em Adelaide. E a primeira pessoa, assim, praticamente, que tinha me falado isso, né. Porque todo mundo tá, tipo, Adelaide. Tem certeza? É. Ela falou, você vai adorar. Em Adelaide, tudo flui. Essa pessoa deve estar meio um pouco... Ou ela... Não sei. Ela nasceu aqui, né? Então. Não. Mas eu vou te falar. Eu concordo com ela. Eu penso nisso o tempo todo. Porque pra mim, fluiu, assim. Só mostrou que, realmente, eu vim pro lugar certo. É isso. Eu arranjei um emprego muito rápido. Eu conheci pessoas... Você... Conheci muitos amigos rápido. E encaixou bem, assim. Namorado. Namorido. Que a gente não encontrava há 32 anos. Encontrei. Então, fluiu muito, assim. Só mostrou que eu tomei a decisão certa. Cara, eu lembro quando eu cheguei aqui em Adelaide. Meu primeiro mês foi, tipo... Vou voltar pra Cisnei, se ela demorar 10 anos pra eu pegar meu vestido, eu não quero saber. Isso aqui não é vida pra ninguém, eu quero ir embora, ir embora. Eu odiei a Adelaide. Hoje eu, tipo… É muito diferente, né? Não saio daqui de jeito nenhum, não. De jeito nenhum, não. Claro, né? É que é uma cidade fria. Mas de velho, talvez? De velho, eu acho que é uma cidade de velho. É uma cidade de família, é uma cidade que as coisas… Pra você fluir, mas eu acho que demora pra acontecer. O povo daqui é tipo… Ai, vou curtir a vida, vou viver e tal. Uma coisa mais relaxada. Bem relaxada. Pelo amor de Deus, gente. Vambora, vambora, vambora! É que você veio de Cid, né, que é tipo São Paulo. Quando eu cheguei aqui, agora eu acho que tem… Uma ou duas farmácias abertas até meia-noite. Quando eu cheguei aqui? Isso é um saco, realmente. Quando eu cheguei aqui, acho que foi numa quinta ou sexta-feira, e aí eu lembro que no primeiro final de semana eu falei, ah, vamos no mercado, né, pra comprar alguma coisa pra comer, não sei o quê. Eu acho que era umas seis, sete da noite. Aí eu tô lá empurrando a porta do mercado. Caramba, por que essa porta aqui não abre? Tá errado. Quando eu fui ver, um aviso enorme. Ah, fecha às cinco da tarde. Eu... O quê? É muito cedo. Assim, você trabalha no escritório. Oito às cinco, sei lá. Não existe shopping pra você. Tá tudo fechado. Só quinta-feira? É. Aí, pelo amor de Deus, que dia horrível. Quero ir lá, quero fazer compras quinta-feira. Mas isso, realmente. Mas Austrália, não todo, né? Eu acho… Adelaide, pior. Mas a gente, o brasileiro, vive assim, de um jeito muito bom, né? Assim, um barzinho, a vida noturna do Brasil. Aqui você não encontra igual, acho que nem em Sydney. Por mais que seja… mais jovem em Sidney, bem melhor que aqui, ainda quando eu estava em Sidney eu ficava, que caída isso aqui, né? Não, não tem. Eu acho que... O clima do Brasil, nada se compara. Aquela coisa amigável, tipo, chega aí, ô colega, chega aí, senta aí, toma um chopp. No meu caso é refrigerante, porque eu não bebo. Mas chega aí, toma uma coquinha, geladeira. Pô, cara, nada se compara. Não tem como. Mas é. Aí foi difícil pensar, não, eu vou largar esse boteco e vou lá pra Austrália, que não tem nada assim, tem pub que é super... Mas aí, enfim, você tá nessa empresa, nananã... Acabou 485, que é o visto. E aí? A gente ficou naquela coisa. Agora, graças a Deus, você aplicou pro visto. Mas até essa incerteza do tipo, e aí? Qual o caminho? E aí? Qual vai ser? O que vai rolar? O que vai acontecer? Tipo, pensou em voltar? Não, agora já tem o meu inglês fluente. Não precisa mais assimilhação. Ó, vou te falar aqui um pouco, assim. Agora a gente foi de férias em maio, em maio, pro Brasil. Acho que foi a primeira vez que eu senti isso de, olha, se também não der certo… Não deu. Aqui o nome do podcast. Mas pelo... Sabe, eu já tentei de tudo, já fiz de tudo. Tiquei todas as boxes que tinha que ticar pra conseguir um visto aqui. Se não der certo é porque não era pra dar. Mas aí o jade dele é do Rio, você foi pro Rio e São Paulo. Teve um choque cultural, por óbvio, né. Porque você ficou aqui o quê? 2022, até… Três anos. Três anos aqui. E imersa, assim, né, literalmente. Que foi corporativo, australiano, namorido, nananã… 100%, aí chegou no Brasil… Uou! Bom, eu acho que, né, tipo… Já chega, pelo menos eu tive a sensação quando eu cheguei no aeroporto, liguei, apertei o botão do bebedouro, a água não subiu, eu falei, putz, cheguei no Brasil. Nossa, assim, deu um puta choque, assim, e... Nossa, é muito chocante. É muito chocante, é. É muito, é muito diferente, mas... É porque a questão da família pega, né? Pega. E foi muito interessante porque o último Brasil que eu tinha na minha cabeça era um Brasil pandêmico, né? Se recuperando da pandemia. Então, eu voltei. Foi o que eu falei. Encontrei até minha máscara na gaveta. Eu lembrava de muita coisa. Falei, nossa, lembra quando a gente só podia andar de máscara aqui na praia e tinha essas regras todas? Era um Brasil diferente, né? E agora é como se nada tivesse acontecido, né? E reencontrando todo mundo, uma facilidade, não tinha esse… Mas eu fiquei com um medo de ter alguma outra pandemia. O que fosse eu ficar presa de novo. Eu fiquei com muito medo. Antes da minha viagem, assim, eu tava muito ansiosa. Assim, meu Deus, se acontece alguma coisa, sabe? Não é possível que vai ter outra pandemia. Se eu senti medo, é questão de segurança. Porque a questão de segurança, acho que pra mim é o ponto maior, assim, da diferença Brasil e Austrália. Sim. Quando você chegou… Porque no meu caso, eu acho que eu não volto pro Brasil um ponto grande é a segurança. Quando você chegou lá, qual foi o choque? Porque, por exemplo, eu tirava minhas alianças, tirava meu anel, tirava tudo e ficava… Eu também. Eu tinha medo de tirar o celular, assim, mandar uma mensagem. Tinha medo de chamar Uber na rua, né? Porque você tá ali… Eu tava bem… Com muito medo no começo de tudo. Depois você vai se adaptando e meio que esquece, né? Mas é também um dos fatores principais pra mim, a segurança. Eu acho que, poxa, a gente ainda é mulher, né? Muitas outras questões. Poder andar aqui na rua, em paz, à noite, que seja pegar um ônibus para ir trabalhar, a volta. E eu sou de Santos, que não é nem uma São Paulo ou Rio, que é cidade grande, mais perigosa, mas continua tendo muito assalto. É perigoso de qualquer forma. Então, eu me sentia muito travada de só ir até ali no shopping a pé, Eu ficava com medo, falei, vou pegar um Uber. Porque, na realidade, é assim… Você vive lá, né? E aí, também me dava uma coisa de… Ai, não tem condição, assim. Já vivi outra coisa, né? Já vivi o outro lado de… Da segurança. Da segurança. A sua família chegou… Porque quando você voltou, em 2022, eles entenderam que, tipo… Tá, agora ela tá indo de vez. Eu acho que foi… Você acha que eles, tipo… Caíram a ficha deles, tipo, ah não, agora… Eu acho que eles ainda pensaram que talvez eu não voltasse, porque eu já estava adaptada lá e já estava há dois anos, né. Mas quando eles viram que realmente eu ia voltar, eu acho que foi eu… Realmente, caiu a ficha de nossa, agora ela vai criar a vida dela lá. E aí, depois que também o Jader apareceu, Na minha vida, acho que mais ainda. Já agora ela tá criando realmente a família dela. E me conta, como é que o Jader apareceu na tua vida? Eu quero saber de tudo! Eu já sei, mas agora pra contar pro pessoal. Como que o Jader apareceu na sua vida? Ele também foi rápido. Mas eu quero saber a frase do tipo… Não, eu vim essa noite aqui para… Não vou fazer nada com ninguém. Vou voltar inteira, intacta, eu quero saber de tudo. Foi numa festa junina. Então, foi em junho, né? Cheguei aqui em maio, aí em junho. Ele trabalhava numa agência de intercâmbio e ele deu um workshop de pessoas novas em Adelaide. Então, eu era uma pessoa nova em Adelaide, uma amiga minha comentou, agência de um amigo meu, vamos lá. Eu fui a primeira a chegar. Tinha salgadinho. Então, eu queria chegar cedo pra comer minha coxinha. Ah, porque aqui é coisa escassa. Comida brasileira aqui é uma... Meu Deus do céu, é loucura. Eu precisava chegar cedo e garantir minha coxinha. Aí, eu conheci ele lá. Aí, depois a gente se reencontrou nessa faixa junina. Aí, fomos num grupo de amigos. Conversava, a conversa vem, né? Acabou rolando. Mas, realmente, quando eu cheguei lá, uma amiga minha. E aí, você gostou de alguém? Acho que foi a primeira festa grande que eu tinha. Eu tava vindo aqui em Adelaide, né? Então, eu não conhecia quase ninguém. Ah, gostou de alguém? Alguém que te interessou? Eu falei, não, imagina! Minha primeira festa, eu não vou queimar cartucho. Não queimou. Não queimou, tá com ele até hoje. Não queimou. Meia hora eu na parede lá, dando uns beijos. Mas aí, depois disso, a gente também nunca mais se desgrudou, foi… Queimei o cartucho ali. E porque assim, a relação aqui é diferente. Se você fosse no Brasil, é um namoro. Aí cada um vai pra sua casa, etc. Aqui é diferente, aqui é intensidade… É, aqui é muito intenso, né. Aí você já… Porque, enfim, você já morava com a sua amiga, né, nessa época. Sim, já. Ele passava mais tempo na… Como é que foi esse início aí de… Ah, era… Eu morava com uma amiga e ele morava já com mais umas três, quatro pessoas. Então ele acabava ficando mais na minha casa, né, porque tinha menos gente. Mas aqui é tudo muito intenso mesmo, né, os sentimentos. Porque você também não divide o seu tempo, mental até com a sua família e o boy. Não, é só o boy, então você fica um pouco, né, ansiosa. Mas acho que a gente lidou bem, demorou um ano e pouco, nem lembro mais agora quanto tempo demorou pra gente morar junto mesmo, que aqui é bem comum, né? Você morar junto rápido por mil motivos. Mas até que a gente segurou bem. É, o ano e meio demorou, né? É. É, mas... Já pode entrar com aliento. Mas deu tudo certo, sim. Mas era essa... Pelo menos, era uma situação que os dois tinham o próprio quarto, né? Porque em Sidney, eu dividia quarto. Então, quando tinha qualquer boia, coisa do tipo, você tinha que falar com a amiga. Amiga, você pode dormir na sala hoje, por favor? Botava a meia do lado de fora. Era horrível, horrível. Pelo menos dessa vez, a gente já tinha condições de pagar o quarto. Ainda bem. Pagava o quarto, daqui a pouco teve condições, quando virou síneo, pra poder pagar a casa, olha aí. Entendeu? Progredi, decidi e dá certo, entendeu? Fair enough, fair enough. E aí agora, vocês dois estão no mesmo visto? Aplicando pro visto permanente? Sim, a gente vai… Aplicou o visto pra já pegar o PR direto e juntos. Juntos. Pela minha profissão. Porque vocês tinham tentado pela profissão dele. Foi. E aí deu… Então, pra vocês que não sabem, a Isa tentou aplicar pelo visto do Jader, não deu certo. E aí, qual foi a sensação? Porque, enfim, a profissão dele, por ele ser pintor, teoricamente, na Austrália, seria muito mais fácil. Sim. Quando veio a negativa, qual foi a sensação? A gente ficou muito surpreso, porque você não vê ninguém nessa área de obra, tendo negativa, é que eles diminuíram muito os convites esse ano, né? Então, o processo migratório tem mudado bastante, né? Então, a gente pegou bem no momento dessa mudança de diminuição de visto e tudo mais. A gente não esperava, eu esperava muito mais receber através do visto dele do que do meu, e não é prioridade, né? E aí, graças a Deus, Como a gente nessa época não tinha visto juntos, o meu ainda tinha quase um ano de duração. Então ele conseguiu entrar no meu pra gente reformular o plano e ter tempo, né? Senão ia ser uma loucura. Uma loucura, é. A Austrália não brinca, né? Não. Isso é o que também te deixa, às vezes, um pouco frustrada, né? De viver essa vida de vício, né? Porque você não vive só a sua vida normal aqui de construir suas coisas, você também, na sua cabeça, você fica, mas eu preciso ter um vício. Do vício, é. Como é que eu vou ter tudo isso se meu vício acaba daqui um ano, né? Não, é. E aí vem o visto, aí você tipo, como é que eu vou fazer pra trabalhar? Porque se você não tem o visto, você não consegue trabalhar, você não... É uma loucura. É muito difícil. Eu acho que só quem é imigrante vive nessa vida de, tipo, você tem que batalhar visto após visto e rezar, pedir adeus pros universos, sei lá, quem você acredita, pra que abençoe a cabeça da pessoa que tá criando ali, não mudar. Por quê? Tanto que essas leis já mudaram. E até que você tem ele na tua mão, você… A gente tá agora esperando a resposta, né, e tudo mais, mas… Não, dá certo. Mas é aquela coisa, né, eu quero ter a carta na minha mão. Acabou, sabe? Acabou, é. É! Nossa, vai ter um especial aqui. O pagodão do piá. É, e vem cá, porque o Jada é do pagode. Carioca pagodeiro. Sim. Isa Roque Pauleira de Santos. Como que é? Nunca escutei tanto Pagode na minha vida. Inclusive, né, fã clube oficial. Tô aprendendo. Aprendi várias músicas já. Já sei quem menos é mais. Olha aí, ó. Perrugem, tô… No show deles, né, o Jader tem uma banda. Eu engano bem. Eu canto só o final, ou uns lá, lá, lá, lê, lê, lê. Mas eu já fui pior. Pica aquela… É, eu já enganei bem mais. Mas eu agora escuto, canto, coloco a mão no peito, sinto a música. E ele vai pra um rock também, até que ele... Acho que ele... Todo mundo já teve uma juventude um pouco emo? Não emo, porque ele vai falar que não era emo, não. Mas um pouco, né, do rock. E... Então, ele conhece também. Então, no carro, por exemplo, a gente não escuta só pagode, não. A gente coloca um rock também, porque tem gente que acha que é só pagode lá em casa. Não é. É rock também. Tem rock também. Tem KSLA. Tem KSLA. Tem seu Jorge na Carolina. Ai, ai. E se você tivesse que mandar uma mensagem, tipo assim, ah, se você tivesse que dar um conselho pra Isadora, da época que tava presa na pandemia, lá no Brasil, no ápice da insegurança, o que você falaria pra ela? Fala, Mona. Segura essa peteca. Segura que vai dar tudo certo. Coisas boas estão vindo. Segura que vai dar tudo certo. Eu acho que é isso de você é mais forte do que você pensa. Caramba. Eu acho que você decidir morar fora do seu país, sair da sua zona de conforto, você sai completamente. Tem que ter uma força do caramba, né? Porque aqui a gente passa, cada preconceito, que às vezes é um preconceito enruche, daquela olhada assim, tipo, ah, você não é daqui. Você se sente diminuído de várias maneiras, né? Até uma correção no seu inglês. sutil, você fica, né? Eu sei falar duas línguas. É, e você? Mas é sempre bancar isso também, né? Não, eu escolhi morar aqui, né? Eu escolhi, é uma escolha, né? Eu tinha uma vida boa lá no Brasil, não foi algo que realmente eu precisava sair, né? Então, eu escolhi ficar aqui. Então, eu tenho que bancar essa escolha também, né? E agora vai ficar aqui de vez, né? Se a imigração permitir. Já permitiu, já permitiu. Estarei aqui. Com certeza. E o que que pra você, de toda a sua trajetória, Sydney, 2017. Pandemia, 2021, 2022. Austrália. Chegou aqui, namorido, visto, pá. O que é que pra você é decidir dar certo? O que é que quando você, tipo, não, vai dar certo? Qual foi o...? Fiz essa pergunta. Eu acho... que eu decidi dar certo quando eu resolvi encarar mesmo assim na pandemia de eu vou voltar a trabalhar, eu não vou sucumbir aqui à tristeza de tô perdida, tô presa, eu vou viver e vou voltar a trabalhar e aí eu vou voltar para Austrália E eu vou ficar lá, eu vou conseguir meu trabalho, eu vou conseguir meu visto, sabe? Foi... Não vou deixar por acaso e ver o que acontece. É, porque passar, também ficar, sei lá... A expectativa quando você for pro Brasil é ficar, sei lá, um mês, dois meses. Aí você vê a vida passando e você, tipo... Você ficando estagnada, né? Você vê o Natal. Gente, eu ia em cartomante perguntar quando é que vai abrir a fronteira. Por favor, me leu esse futuro. E nada. Era um Natal. Eu acho que eu passei uns três Natais lá. Nem lembro mais. Mas você fica, mais um Natal aqui. Mais um aniversário. E tava bom. Muito choro. Muito choro. No começo, nossa. Até o final. Até hoje, quando eu voltei de lá, eu tava chorando aquela hora. É, também é difícil, né? É difícil. É difícil voltar, porque você não se sente que pertence mais, mas é difícil ir embora, né? Então, você parece que fica vários pedacinhos do seu coração. Fica um pouquinho lá em Sidney, fica um pouquinho lá em Santos, fica um pouquinho aqui. Se eu te perguntar, Isa, aonde você se sente pertencente? O que você falaria? Hoje? Ah, hoje eu aqui. Aqui. Aqui. Hoje eu me sinto... Às vezes depende do dia. Se você perguntar amanhã, talvez... Talvez até Holanda, amanhã talvez vai ser Holanda. Hoje é sexta-feira, sexta-feira eu apertei isso aqui. É difícil estar longe. Eu queria trazer todas as pessoas do Brasil pra cá. Mas aqui é o meu lugar. O seu lugar. É. Então, daqui a cinco anos, como você se vê? Ah, se Deus quiser, com minha residência. Cidadã. Não, daqui a cinco anos você vai estar de cidadã já. É, cidadã. Ah, minha casa. Realmente, casa. Não sei se vai ser própria, né? Porque é caro. Mas me vejo com a minha carreira, minha família. Filhos? Ah, acho que não. Um cachorro. Gatinho. Gatinho você já tem, emprestada da vizinha. Então, talvez o meu gato. E, assim, realizada. Eu me sinto muito realizada hoje em dia, já. Eu acho que é só continuar, sabe? Daqui cinco anos, continuar o que eu já tô construindo. Ah, legal. Ai, obrigada. Obrigada pela entrevista. Obrigada por compartilhar um pouco da sua história com a gente. Obrigada, enfim, por abrir o coração, porque é difícil, né? É muito legal lembrar de tudo que aconteceu, né? Porque não foi fácil essa questão de ficar presa lá e a cabeça, né? Mas é gostoso também ver tudo que aconteceu e como a gente… Tudo passa, né? Como a gente consegue… Eu não sei. Eu não sei. Eu sei. A gente consegue superar, né? É muita resiliência. Eu acho que é uma das coisas que a gente tem que ter dentro da gente quando é imigrante. Resiliência. É, é verdade. Eu acho que... Até pra você decidir que aqui não é o seu lugar, porque também tem gente que não se adapta aqui. E tá tudo bem você voltar e tipo, não, eu não pertenço à Austrália. Meu local é o Brasil. E tá tudo bem também. Você tem que ser resiliente, porque você vai voltar pro Brasil e você vai ter que começar ok, né? Enfim, vai ter o inglês, né? vai ter que recomeçar também, né? Então, é difícil. Recomeçar é difícil. É, importa onde você esteja. Não importa onde você esteja. Eu acho que quanto mais velho vai ficando, mais difícil é. Ainda bem que você tinha amiga aqui, né? É, nunca estive 100% só. 100% só. E depois de três meses ainda teve o namorido. Agora eu não estou só nunca. Nunca. Mas enfim, Isa, brigadão, obrigada mesmo. Obrigada, adorei. Obrigada pelo seu outfit. Quem mate. Adoro essa loja. Mas obrigada. E se você tá assistindo a gente no YouTube, não esquece de compartilhar, ativar o sininho, curtir. A gente tá em todas as plataformas de áudio, as principais plataformas. 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O recomeço que ela não planejou (com Isadora Paixão)
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